90 ANOS DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA PROLETÁRIA RUSSA DE OUTUBRO DE 1917

MORAL E CONSCIÊNCIA, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO DAS LUTAS REVOLUCIONÁRIAS

DE EMANCIPAÇÃO PROLETÁRIO-SOCIALISTA

TEXTOS DE CÉLEBRES DIRIGENTES BOLCHEVIQUES SOBRE J. M. SVERDLOV

 

Quem São os Revolucionários Profissionais ?

Os Exemplos Paradigmáticos de

I. V. BABUSHKIN E J. M. SVERDLOV  

 

EMELIAN M. YAROSLAVSKY[1]

 

Concepção e Organização, Compilação e Tradução Asturig Emil von München

Agosto de 2003 emilvonmuenchen@web.de

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Os pensamentos que Lenin desenvolveu no “Iskra (A Centelha)” sobre alguns problemas relacionados com a organização do Partido do proletariado revolucionário foram por ele apresentados, mais tarde, de modo claro, em um de seus melhores trabalhos : um livrinho intitulado “O Que Fazer ?”.

 

Esse livrinho deve ser lido por todos os que pretendem estudar, de maneira realmente séria, a história do Partido Bolchevique. 

Nessa sede, Lenin elucida os problemas mais importantes da luta revolucionária e da organização partidária, não apenas para o tempo em que esse seu livrinho fora redigido, senão também para todas as décadas que viriam a seguir.

Com “O Que Fazer ?”, os trabalhadores de diversos países podem, ainda hoje, muito apreender para executar aquilo que têem de fazer, visando ao desenvolvimento da luta de classes e ao atingimento do objetivo por eles perseguido.

Obviamente, terão de levar em conta, nesse contexto, as diferenças das condições da luta e do trabalho de seus países, os contrastes relativos às situações políticas e sociais, porquanto não podem acolher todas as coisas literalmente.

 

Em seu livrinho em foco, Lenin levanta, em primeira linha, a questão da construção do Partido.

Demonstra que o Partido há de ser construído de modo centralista, i.e. deve ser guiado por um centro dirigente.

Outrora, isso era particularmente importante para a Rússia porque, em nosso Partido, a confusão ideológica, a fragmentação e a improvisação predominavam.

Todas as organizações agiam consoante o seguinte princípio :

 

“Cada qual do seu jeito.”

 

E, ainda :

 

“Ninguém tem de persuadir-me a fazer nada.”

 

Entretanto, como toda a experiência veio a demonstrar posteriormente, a construção centralista é uma necessidade incondicional para um Partido de luta. (...)

 

O livrinho “O Que Fazer?” trata também da questão concernente à construção de uma organização de profissionais revolucionários.

No II Congresso do Partido Social-Demócratico Operário Russo (POSDR), essa questão provocou uma resistência particularmente forte da parte dos mencheviques (...)

Estes defendiam a concepção de que até mesmo um professor qualquer que não possuísse absolutamente a intenção de ingressar no Partido, por prestar-lhe apenas esse ou aquele serviço determinado, poder-se-ia tornar um membro do Partido.

 

“O Que fazer?” dirigi-se, além disso, contra a “liberdade de crítica”.

Esta levava a que cada uma das organizações partidárias, cada membro do Partido, propagasse quaisquer tipos de concepções, julgadas convenientes, a seu bel prazer.

Acerca dessa questão, Lenin escreveu o seguinte:

 

“Oh sim, meus Senhores, vocês são livres não apenas para exortarem, senão ainda para irem aonde quiserem...

Porém, ... nós também somos “livres” para irmos aonde quisermos.

Livres não só para lutar contra o pântano, mas também contra os que se dirigem para o pântano !”

(cf. V. I. Lenin, Obras Completas, Vol. 4, Tomo 2, p. 135).

 

Lenin referiu-se ao fato de que a “liberdade” é uma grande palavra.

Porém, há na história casos em que, sob a máscara desse vocábulo, são conduzidas diversas guerras de rapina.

Lenin assinalou que os bolcheviques, por serem um Partido de lutadores dotados da mesma convicção, caminhavam por um desfiladeiro escarpado e necessitavam ter cuidado com os que enchíam a boca com a “liberdade de crítica” e, com isso, procuravam empurrar o Partido para o abismo, para o precipício, para dentro do pântano.

Já a esse tempo, surgiu a questão de saber o que deve ser o Partido : se pode estruturar-se apenas com companheiros dotados da mesma convicção ou comportar em seu interior quaisquer tipos de frações, correntes e grupos ? 

No livrinho “O Que Fazer ?”,  Lenin abordou essa questão assinalando que :

 

·        é imprescindível, separarmo-nos, logo de início e resolutamente, dos “economistas” e outros grupos semelhantes ;

 

·        é mister opor nosso ponto de vista marxista-revolucionário contra todas as demais concepções e combater essas últimas.

 

Há que demonstrar por que os bolcheviques não estão com elas de acordo e, depois, dizer :

 

“Se vocês desejam uma unificação com fundamento em nosso programa e com base em nossas concepções – muito bem; caso contrário, torna-se imprescindível levar adiante uma luta contra vocês mesmos.”

 

Juntamente com o “Iskra (A Centelha)”, o livrinho “O Que Fazer ?” assestou o mais intenso golpe contra o espírito de improvisação.

Direcionou a atenção das organizações e dos companheiros para as tarefas político-gerais.

Estes possuíam a falsa concepção de que o mais importante era dar fluência ao trabalho de nível local, ao passo que o centro e as tarefas político-gerais surgiriam apenas em dimensão secundária.

 

O livrinho “O Que Fazer ?” colocou diante de todos os marxistas a tarefa de devotar a mais séria atenção à necessária manutenção do elevado prestígio do revolucionário e do desenvolvimento das qualidades revolucionárias.

Um papel particular foi dedicado por Lenin à incorporação de trabalhadores nos comitês e organizações do Partido.

Sem exagero, pode-se dizer que o livrinho “O Que Fazer ?” foi o melhor guia para todos os organizadores do Partido e, em sua parte principal, ainda permanece sendo.

 

Quem são os revolucionários profissionais ?

A resposta a essa questão está contida nas características a seguir impressas que foram atribuídas por Lenin aos companheiros Ivan V. Babushkin e Jakob M. Sverdlov.

Convém destacar, porém, de início, que o próprio Lenin foi, em verdade, o melhor paradigma de revolucionário profissional, para quem a causa revolucionária era tudo em sua vida.

Em dezembro de 1910, Lenin escreveu um artigo em memória da morte de Ivan V. Babushkin, o primeiro correspondente operário iskrista, formulando as seguintes palavras[2] :

 

“Vivemos sob condições malditas nas quais são possíveis coisas do seguinte gênero :

Um grandioso militante do Partido, orgulho do nosso Partido, um companheiro que dedicou, abnegadamente, sua vida inteira à causa dos trabalhadores, veio a desaparecer, sem deixar vestígios.

E as pessoas mais próximas dele, sua esposa e sua mãe, seus amigos mais estreitos, ficaram sem saber, durante anos, o que com ele havia ocorrido : 

Será que teria definhando, em algum lugar de uma penitenciária ?

Será que sucumbira em uma dessas prisões quaisquer ou conhecera uma morte heróica, em um embate, travado contra o inimigo ?

Pois foi isso mesmo que aconteceu com Babushkin, ao ser fuzilado por Rennenkampf.

Ficamos sabendo de sua morte apenas recentemente.

O nome Babushkin era familiar e estimado por muitos social-democratas.

Todos os que o conheciam, amavam-no e honravam-no por causa de sua energia e objetividade, profunda firmeza revolucionária e candente dedicação à causa.

Em 1895, como trabalhador de Petersburgo, Babushkin, juntamente com um grupo de outros companheiros conscientes, dirigiu energicamente o trabalho nos distritos, situados atrás do Portão Neva, em meio aos trabalhadores das fábricas Semianikov, Alexandrov e da indústria de vidro.

Formou círculos, fundou bibliotecas e aprendeu, durante todo o tempo, de modo apaixonado.

Todos seus pensamentos direcionavam-se para a perspectiva de como ampliar o trabalho.

Babushkin tomou parte ativa na elaboração do primeiro panfleto de agitação que foi editado, no outono de 1894, em São Petersburgo.

Tratava-se de um panfleto dirigido aos trabalhadores da fábrica Semianikov que o próprio Babushkin, em pessoa, foi distribuir.

Quando se formou em Petersburgo a “Liga de Luta pela Emancipação da Classe Trabalhadora”, Babushkin tornou-se um dos mais ativos de seus membros e nela trabalhou até o momento em que acabou sendo preso.

A idéia da criação de um jornal político no exterior que servisse à unificação e à consolidação do Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR) foi discutida com ele e com seus velhos companheiros do trabalho de Petersburgo, os fundadores do “Iskra (A Centelha)”.

Tal idéia encontrou junto a Babushkin o mais inflamado apoio.

Enquanto encontrava-se em liberdade, o “Iskra (A Centelha)” não sofria de nenhuma insuficiência de correspondentes operários.

Examinem-se os primeiros vinte (20) números desse jornal político:

Todos aqueles correspondentes, procedentes de Shuia, Ivanovo-Voznecensk, Orekhovo-Zuievo e de outras localidades da Rússia Central, quase todos eles haviam passado pelas mãos de Ivan Vassilievitch que se esforçara por produzir a ligação mais estreita entre o “Iskra (A Centelha)” e os trabalhadores.

Babushkin foi o mais devotado correspondente iskrista e um dos adeptos mais ardentes desse jornal político.

Da região central da Rússia, Babushkin transferiu-se para o sul, para Ekaterinoslav, onde foi preso e lançado na cadeia de Alexandrovsk.

De Alexandrovsk, Babushkin fugiu, juntamente com um outro companheiro, depois de terem serrado as grades da janela.

Sem possuir conhecimento de língua estrangeira alguma, dirigiu-se para Londres, onde, outrora, encontrava-se a redação do “Iskra (A Centelha)”.

Em Londres, muitas coisas foram discutidas e muitas questões, conjuntamente decididas.

Porém, Ivan Vassilievitch não conseguiu estar presente no II Congresso do Partido ... :

A prisão e o exílio arrancaram-no do nosso fronte, durante um longo tempo.

A onde revolucionária que emergia produziu novos trabalhadores, novos quadros do Partido, enquanto Babushkin vivia, durante esse tempo, no longíngüo norte da Sibéria, em Verkholensk, subtraído à vida partidária.

Porém, não desperdiçou tempo inutilmente.

Estudou, preparou-se para a luta, ocupou-se com trabalhadores e companheiros de exílio, esforçando-se por deles fazer social-democratas conscientes e bolcheviques.

Em 1905, adveio uma anistia e Babushkin pôs-se a caminho da Rússia.

Porém, também na Sibéria, por volta desse período, as ondas entravam em ebulição e pessoas como Babushkin eram necessitadas por aqueles lados.

Ingressou, então, no Comitê de Irkutsk e lançou-se avidamente ao trabalho.

Cumpria intervir nas assembléias, impulsionar a agitação social-democrática e organizar a insurreição.

Quando Babushkin e outros cinco outros companheiros – cujos nomes não chegaram até nós – levavam à Tschita um grande transporte de armas, no interior de um vagão especial, seu trem foi detido pela Expedição Punitiva de Rennenkampf e todos os seis, sem qualquer processo judiciário, foram imediatamente fuzilados, justamente à beira de uma cova coletiva, cavada por eles mesmos.

Morreram como heróis.

Alguns soldados, testemunhas oculares de seu assassinato, e trabalhadores ferroviários, passageiros desse mesmo trem, contaram sobre sua morte.

Babushkin caiu vítima de uma justiça sumária selvagem, organizada por um carrasco czarista.

Porém, ao morrer, sabia que a causa a que havia devotado toda a sua vida não morreria, essa obra haveria de ser realizada por dezenas, centenas de milhares e milhões de outras mãos, por essa causa haveriam de morrer outros companheiros trabalhadores, outros ainda lutariam, até que a vitória fosse conquistada ...

Há pessoas que produziram e difundiram a fábula de que o Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR) seria um partido da « inteligência », os trabalhadores estariam dele distanciados, os trabalhadores, na Rússia, seriam social-democratas sem Social-Democracia.

Assim haveria de prosseguir sendo, em particular, até à revolução e, em considerável medida, durante a revolução.

Os liberais espalham essas mentiras por ódio à luta revolucionária de massas que o POSDR dirigiu em 1905.

Também entre socialistas há os que acolhem essa teoria mentirosa, como por ignorância ou negligência.

A biografia de Ivan Vassilievitch Babushkin, expressando o trabalho social-democrático de dez anos desse trabalhador-iskrista, serve, manifestamente, como refutação das mentiras liberais.

I. V. Babushkin foi um desses trabalhadores avançados que, dez (10) anos antes da Revolução de 1905, começou a fundar um partido social-democrático dos trabalhadores.

Sem o trabalho incansável e heroicamente perseverante de tais precursores, pertencentes às massas proletárias, o POSDR não conseguiria completar dez anos e nem mesmo dez meses de vida.          

Apenas devido às atividades desses precursores, tão somente graças ao seu apoio, o PODSR alcançou, em 1905, a condição de Partido que se fundiu, indissoluvelmente, com o proletariado, nos grandes Dias de Outubro e Dezembro, mantendo essa ligação na pessoa dos Deputados Trabalhadores, não apenas na II Duma como também na III Duma dos Cem-Negros.   

Os liberais (os cadetes) querem tornar herói popular o Presidente da I Duma do Estado, S. A. Murontsev, morto pouco tempo faz.

Nós, social-democratas, não devemos perder a oportunidade de expressar nosso desprezo e nosso ódio ao Governo Czarista que persegue até mesmo funcionários tão moderados e inofensivos como Murontsev.

Murontsev foi apenas um funcionário liberal.

Nem sequer foi um democrata.

Temia a luta revolucionária das massas.

Esperava obter liberdade para a Rússia não a partir dessa luta, senão a partir da boa vontade da autocracia czarista, a partir de um entendimento mantido com esse mais hostil e impiedoso inimigo do povo russo.

Em pessoas como essa, é risível, porém, entrever heróis populares da Revolução Russa.

Porém, tais heróis populares existem.

São pessoas como Babushkin.

São pessoas que se dedicaram inteiramente à luta em prol da libertação da classe trabalhadora, não apenas um ou dois anos, senão todo um decênio antes da revolução.

São pessoas que não se desperdiçaram em empreendimentos terroristas despropositados e isolados, mas sim atuaram, intrepidamente e com pertinácia, em meio às massas proletárias, ajudando-as a desenvolver sua consciência, sua organização e sua atividade revolucionária independente.

São pessoas que se colocaram à cabeça da luta armada das massas contra a autocracia czarista, quando a crise adveio e a revolução rebentou, quando milhões e milhões de seres humanos se colocaram em movimento.

Tudo aquilo que foi arrancado da autocracia czarista foi arrancado exclusivamente pela luta das massas, dirigidas por homens como estes, por homens como Babushkin.

Sem pessoas como estas, o povo russo permaneceria sendo eternamente um povo de escravos, um povo de vassalos.

Com pessoas como estas, o povo russo conquistará sua inteira libertação de toda forma de exploração.

Já transcorreram cinco aniversários da Insurreição de Dezembro de 1905.

No aniversário desse ano, desejamos homenagear a memória dos trabalhadores avançados que cairam na luta travada contra o inimigo.

Dirigimo-nos aos companheiros trabalhadores com o pedido de reunirem-se e enviarem-nos recordações da antiga luta e informações adicionais sobre Babushkin, como também sobre outros trabalhadores social-democráticos que tombaram na Insurreição de 1905.

Pretendemos lançar uma brochura com a descrição da vida desses trabalhadores.

Essa brochura constituirá a melhor resposta a ser dada a todos os céticos e menosprezadores do significado do POSDR.

A brochura em foco será a melhor leitura para os jovens trabalhadores que nela aprenderão como devem viver e agir todos os trabalhadores conscientes.”

 

Em seu discurso pronunciado em homenagem do companheiro Jakob M. Sverdlov, no dia 18 de março de 1919, perante a VI Sessão do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia (VtsIK), Lenin veio, então, a afirmar o seguinte[3] :

 

Companheiros !

No dia em que os trabalhadores de todo o mundo comemoram a Insurreição Heróica da Comuna de Paris e seu trágico desate, temos de levar ao sepulcro o Companheiro J. M. Sverdlov.

No decorrer de nossa revolução e de suas vitórias, o Companheiro Sverdlov conseguiu expressar, do modo mais completo e mais efetivo do que qualquer outra pessoa, a própria essência da Revolução Proletária.

Nisso se encerra seu significado enquanto dirigente dessa revolução em grau ainda muito mais elevado do que a sua fidelidade ilimitada à causa revolucionária.

Segundo as pessoas superficiais, segundo os nossos inimigos, segundo as pessoas que oscilam entre a revolução e seus adversários, salta aos olhos, sobretudo, o acerto de contas, decidido e impiedosamente severo, da revolução com os exploradores e inimigos do povo trabalhador.

Sem a violência revolucionária, o proletariado não poderia, evidentemente, ter vencido.

Porém, não existe dúvida de que a violência revolucionária se apresenta como necessária e lícita tão somente em determinadas circunstâncias, enquanto que o atributo muito mais essencial na revolução, bem como o pressuposto de sua vitória, é a organização das massas proletárias.

Nessa organização reside a profunda fonte de sua vitória.

Precisamente esse lado da revolução proletária também produziu, no processo das lutas, os seus dirigentes que incorporaram a particularidade da Revolução Proletária : a organização das massas.

Esse traço da Revolução Proletária produziu, igualmente, o Companheiro Sverdlov que foi, antes de tudo e em primeira linha, um organizador.

 

Companheiros !

Particularmente nos tempos difíceis da preparação incessante, dolorosa e incomensuravelmente longa da revolução, nós, russos, tivemos de sofrer sobretudo em razão da divergência entre teoria, princípios, programa e prática.

A história do nosso movimento revolucionário conhece, ao longo de muitas décadas, personagens dedicados à revolução que, entretanto, não puderam assegurar aplicação prática ao seu ideal revolucionário.

Apenas a Revolução Proletária forneceu a base autêntica, o fundamento verdadeiro, o auditório real.

E aqui, acima de tudo, destacaram-se aqueles dirigentes que conseguiram conquistar para si um lugar proeminente como organizadores práticos.

Por direito, esse lugar pertencenceu ao Companheiro Sverdlov.

Se lançarmos um olhar em sua vida, perceberemos que seu notável talento de organização formou-se no quadro de prolongadas lutas.

Cada uma de suas qualidades extraordinárias de grande revolucionário foram forjadas por ele mesmo, vivenciando-as e colocando-as à prova nas diferentes épocas e sob as condições mais difíceis da atividade de um revolucionário profissional.

No primeiro período de seu trabalho, ainda quando jovem, logo que despertou sua consciência política, dedicou-se, inteiramente, à revolução.

Nessa época, bem no início do século XX, o Companheiro Sverdlov surgia diante de nós como o tipo mais marcante de revolucionário profissional  - um homem que rompera totalmente com sua família, com todas as comodidades e costumes da velha sociedade burguesa[4].

 

Rompeu com sua família e com todos os hábitos da sociedade burguesa, trocando, ao longo de prolongados anos, o cárcere pelo exílio e o exílio pelo cárcere, consolidando-se como revolucionário.

Porém, esse revolucionário profissional jamais, nem mesmo por um só minuto, separou-se das massas.

As condições sob o czarismo forçaram-no, tal como a todos os revolucionários daqueles tempos, à atividade clandestina, ilegal.

Porém, também nela, o Companheiro Sverdlov seguiu sempre ombro a ombro e de mãos dadas, com os trabalhadores avançados que, logo a partir do início do século XX, começaram a ocupar as próprias fileiras das gerações precedentes de revolucionários da inteligência.

Precisamente a essa altura, trabalhadores avançados surgiram às dezenas e centenas.

Educaram-se para o rigor das lutas revolucionárias, não perdendo, ao mesmo tempo, as mais firmes ligações com as massas, sem as quais não poderia ter existido uma revolução vitoriosa do proletariado.

Justamente essa longa trajetória do trabalho ilegal constitui, antes de tudo, o elemento característico para um homem que, permanentemente participando da luta, jamais se separou das massas, jamais abandonou a Rússia, sempre atuou conjuntamente com os melhores dos trabalhadores, logrando formar em si mesmo, apesar daquele isolamento de vida ao qual era condenado o revolucionário pelas perseguições, não apenas o dirigente amado pelos trabalhadores, não apenas o dirigente que profunda e principalmente conhecia o trabalho prático, mas também o organizador dos proletários mais avançados[5].

 

Alguns pensavam - entre esses, freqüentemente, nossos inimigos ou as pessoas mais oscilantes - que o trabalho ilegal, traço obrigatório do revolucionário profissional, separava-o das massas.

Porém, o exemplo da atividade do Companheiro Sverdlov demonstra o quanto é falso esse ponto de vista.

Precisamente a devoção ilimitada à causa da revolução daqueles que percorreram muitas prisões e os mais remotos lugares dos exílios siberianos forjaram dirigentes como o Companheiro Sverdlov, no momento em que tal devoção conjugou em seres humanos inteligência e capacidade para impulsionar o trabalho de organização.

Tão somente ela foi capaz de produzir talentos de organização.

Através de círculos ilegais, através do trabalho revolucionário clandestino, através do partido ilegal, o Companheiro Sverdlov logrou alcançar o posto de primeiro homem na primeira República Socialista, o posto de primazia entre os organizadores das amplas massas proletárias.

 

Companheiros !

Todos aqueles que trabalharam dia após dia com o Companheiro Sverdlov viram, de modo particularmente claro, que seu singular talento de organização assegurou-nos aquilo de que nos orgulhamos, com pleno direito.

Assegurou-nos a possibilidade de um trabalho organizado, adequado, unânime, que se tornaria digno das massas proletárias organizadas, trabalho esse sem o qual não poderia existir sucesso algum nem seria possível dar resposta, na mais plena dimensão, às necessidades da Revolução Proletária.

Nesse trabalho ardente que, em tempos de revolução, exige dirigir revolucionários, um valor colossal representa a autoridade moral a qual adquire sua força, naturalmente, não em uma moral abstrata, mas sim na moral do lutador revolucionário, na moral das fileiras e dos elos das massas revolucionárias. 

Se conseguimos, durante mais de um ano, levar o fardo que sobrecarregava um pequeno círculo de revolucionários devotados, se os grupos dirigentes conseguiram decidir as questões mais difíceis tão firme e unanimemente, foi exclusivamente porque um posto proeminente entre eles foi ocupado por um organizador tão singularmente talentoso como Jakob Mikhailovitch.

Tão somente ele conseguiu reunir em si um conhecimento admirável do quadro do pessoal dirigente do movimento proletário, tão somente ele conseguiu formar em si mesmo, no curso de longos anos de luta, o instinto da prática e o talento de organizador, bem como alcançar aquela autoridade indiscutível, em virtude da qual dirigiu, individualmente, grandes setores inteiros de trabalho do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia (VTsIK), para os quais teria sido necessário todo um grupo de pessoas.

Apenas ele conseguiu conquistar a posição, na qual bastava uma única palavra sua sobre certa questão para que fosse esta decidida de uma vez por todas, sem qualquer consulta e sem qualquer votação formal.

E, junto a todos, surgia a certeza de que havia sido decidida precisamente, tal como cumpria sê-lo, de modo que não apenas os trabalhadores avançados, mas também todas as massas operárias, consideravam essa decisão como definitiva.

A história sempre demonstrou que as grandes revoluções engendram grandes personalidades, bem como desenvolvem talentos que antes eram considerados impossíveis.

Ninguém teria acreditado que da escola do círculo ilegal e do trabalho clandestino, da escola de um pequeno partido perseguido, do cárcere de Turukhansk, pudesse proceder um tal organizador que, em virtude de seu próprio conhecimento, exerceu uma autoridade absolutamente indiscutível enquanto organizador de todo o Poder Soviético da Rússia, organizador singular do trabalho do partido.

Organizador extraordinário desse partido que criou os Soviets e, na prática, executou o Poder Soviético – poder esse que agora empreende sua difícil e dolorosa marcha, inundada de sangue, porém vitoriosa, através de todos os países do mundo.

Um tal homem não lograremos substituir jamais, se entendermos por substituição a possibilidade de encontrar um companheiro que unifique em si tais capacidades.

Nenhum daqueles que conheceram Jakob Mikhailovitch pode duvidar que, nesse sentido, o Companheiro J. M. Sverdlov é insubstituível.

O trabalho que sozinho realizou será doravante realizado, necessariamente, apenas por grupos de pessoas que, prosseguindo conforme suas pegadas, darão seqüência ao seu trabalho.

Entretanto, a força da Revolução Proletária reside precisamente na profundeza de suas fontes.

No lugar daqueles que dedicaram ilimitadamente suas próprias vidas à revolução e aderiram às lutas, a Revolução Proletária produz outras fileiras de pessoas que, talvez, sejam menos experimentadas, menos versadas, menos preparadas, mas que prosseguirão a sua obra, vinculando-se às amplas massas e capacitando a si mesmas a se colocarem no lugar dos grandes talentos precedentes.

Nesse sentido, encontro-me profundamente seguro de que a Revolução Proletária na Rússia e no mundo inteiro gerará diversos grupos de pessoas, inúmeras camadas de proletários e de camponeses trabalhadores que aportarão à vida significado prático e talento de organização, senão individual, então coletivo, sem o qual não será possível atingir a vitória.

A mémoria do Companheiro J. M. Sverdlov servirá não apenas como símbolo de devoção do revolucionário à sua causa, não apenas como exemplo de vinculação de habilidade e sobriedade práticas, de perfeita conexão com as massas e de capacidade de as dirigir.

Ela nos assegurará, além disso, a garantia de que massas cada vez mais amplas de proletários avançarão sempre adiante, rumo à vitória completa da Revolução Comunista.

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS

 



[1] Cf. YAROSLAVSKY, EMELIAN MIKHAILOVITCH. Aus der Geschichte der Kommunistischen Partei der Sowjetunion  - Bolschewiki (História do Partido Comunista da União Soviética – Bolchevique)(1926), em particular Erster Teil : Von der Narodnikibewegung bis zum Imperialistischen Krieg (No Movimento dos Populistas até a Guerra Imperialista), Capítulo IV : Die Periode des Zerfalls, des ideologischen Wirrwarrs und der Schwankungen – Der Kampf der “Iskra” (O Período da Decomposição, da Confusão Ideológica e das Vacilações – A Luta do “Iskra”), Hamburg – Belim : Carl Hoym Nachfolger, 1929, pp. 80 e s.  

[2] Destaco que o presente texto de Lenin, dedicado a Babushkin e reproduzido apenas parcialmente no artigo de Yaroslavsky em tela, traduzi-o, aqui, integralmente, em língua portuguesa, a partir de LENIN, VLADIMIR ILITCH ULIANOV. Ivan Vassilievitch Babushkin. Nekrolog (I. V. Babushkin. Necrológio) (18.12.1910), in: W. I. Lenin Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras Completas Reunidas de V. I. Lenin), Vol. 20, Moscou : Gosudarstvennoe Izdatel’stvo, 1961, pp. 79 e s.

[3] A presente tradução em língua portuguesa foi efetuada a partir do texto original em língua russa de LENIN, VLADIMIR ILITCH ULIANOV. Pamiati Y. M. Sverdlova. Retch’ V. I. Lenina. „Pravdy“ i „Izvestia“ ot 20 Marta 1919. Tcherezvytchainoe Zacedanie VTsIK. 18 Marta, Posviaschennoe Pamiati Predcedatelia VTsIK Tav. Sverdlova (Em Memória de J. M. Sverdlov. Discurso de V. I. Lenin. “Pravda” e “Izvestia” de 20 de março de 1919. Sessão Extraordinária do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia (VTsIK) de 18 de Março. Discurso Dedicado à Memória do Presidente do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia (VTsIK), Companheiro Sverdlov), in: Yakov Mikhailovitch Sverdlov. Sbornik Vospominanii i Statei(Jakob Mikhailovitch Sverdlov. Compêndio de Recordações e Artigos), ed. ISTPART - Otdel TS.K.R.K.P.(b.) po Izutcheniiu Istorii Oktiabrskoi Revoliutsii i R.K.P.(b.), Leningrad : Gosud. Izdatel-vo Leningrad, 1926, pp. 53 e s., como também em conformidade com IDEM. Retch’ Pamiati Y. M. Sverdlova na Ekstriennom Zacedanii VTsIK 18 Marta 1919 g. (Discurso em Memória de J. M. Sverdlov Pronunciado na Sessão Extraordinária do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia, em 18 de Março de 1919)(18.03.1919), in : V. I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras Completas de Lenin), Moscou : GIPL, 1961, Vol. 38, pp. 74 e s. Recordo que a designação ISTPART corresponde à abreviação relativa à Comissão de Coletânea e Estudo dos Materiais acerca da História da Revolução de Outubro e do Partido que, adjunta ao Comitê Central do Partido Comunista Russo, dirigido por Lenin, prestou, no quadro da I República Socialista Federativa Soviética Russa, importantes contribuições à valorização e à preservação da história da Grande Revolução Proletária de Outubro. O colegiado dirigente dessa mencionada comissão foi integrado, nos anos imediatamente posteriores à Revolução de Outubro, pelo célebre bolchevique da velha guarda dos Urais N. N. Baturin – nome de guerra de Nikolai Nikolaievitsch Samiatin -, quando esse último lecionou na Universidade Comunista J. M. Sverdlov, de Moscou. Após a morte de Lenin, o ISTPART passou a, crescentemente, responder aos interesses das troikas, comandadas por Stalin, para então, a partir de 1927, degenerar-se, completa e irreversivelmente, em ferramenta de luta contra os fatos e valores autenticamente proletários-revolucionários e internacionalistas de Outubro.  Quanto ao presente discurso de Lenin, observo que foi concomitantemente publicado, em 20 de março de 1919, nos jornais Pravda e Izvestia.  O teor da presente tradução foi cotejado ainda com a versão alemã de LENIN, WLADIMIR ILITCH ULIANOV. Gedenkrede für J. M. Swerdlow in der außerordentlichen Sitzung des gesamtrussischen Zentralexekutivkomitees 18 März 1919(Discurso em Memória de J. M. Sverdlov, Proferido na Sessão Extraordinária do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia, em 18 de Março de 1919), in: W. I. Lenin Werke (Obras de V. I. Lenin), Vol. 29, Março-Agosto de 1919, Berlim : Dietz Verlag, 1961, pp. 74 e s. A tradução para o idioma alemão foi elaborada a partir da quarta edição russa das Obras Completas de Lenin, editadas pelo Instituto de Marxismo-Leninismo do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, que compilou esse mesmo discurso, entretanto, segundo sua versão de 1939, intitulada LENIN, VLADIMIR ILITCH ULIANOV. Retch Pamiati Y. M. Sverdlova na Ekstriennom Zacedanii VTsIK 18 Marta 1919(Discurso em Memória de J. M. Sverdlov, Proferido na Sessão Extraordinária do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia (VTsIK), de 18 de Março de 1919), in: Klavdia Timofeievna Novgorodtseva Sverdlova. Jakob Mikhailovitch Sverdlov. Vospominaniia(Jakob Mikhailovitch Sverdlov. Recordações), ed. Izdatel-vo TsKVLKSM., Moskva : Molodaia Gvardia, 1939, pp. 3 e s. Essa versão de 1939 e todas as suas edições posteriores, contidas nas Obras Completas de Lenin, editadas em língua russa, – e, por consegüinte, também a tradução alemã de 1961 – apresentam certas discrepâncias em relação ao original russo publicado em 1926 pelo ISTPART que aqui utilizei como referência fundamental. A fim de clarificá-las, confrontei a presente tradução com os textos desse mesmo discurso de Lenin traduzido, porém, a partir daquela versão russa e de sua tradução alemã, publicadas, respectivamente, em Moscou, em 1939 - e, posteriormente, nas repetidas edições em língua russa das Obras Completas de Lenin -, e em Berlim Oriental, em 1961. As indicações de pé-de-página, formuladas adiante, permitirão ao leitor de, por si mesmo, entrever as divergências existentes entre o texto original russo de 1926 e suas posteriores versões. Por fim, observo que o livro em referência de Klavdia T. N. Sverdlova, editado em 1939, a despeito de apresentar importante material fotográfico, bem como cartas e alguns documentos políticos, redigidos por ou acerca de Sverdlov, reduziu, substancialmente, a publicação de 1926 do ISTPART que contém, além de diversos artigos de bolcheviques da velha guarda, redigidos em memória de Sverdlov, um capítulo específico de Trotsky referente às suas recordações acerca desse grande dirigente bolchevique. O livro de 1939 dispõe apenas da nova versão do discurso de Lenin, um artigo de Stalin e as recordações de Klavdia T. N. Sverdlova. Quanto às recordações de Klavdia – aí contidas e editadas visivelmente para procurar dissimular o dogmatismo autocrático e os crimes da burocracia-operária contra-revolucionária, orquestrados por Stalin e seus prosélitos, às custas do imenso prestígio revolucionário de Sverdlov, – cumpre destacar que destoam, completamente, do trabalho dessa autora, vindo a público posteriormente, em diferentes edições, em 1957, 1960 e 1976, após a morte do insaciável verdugo e traidor despótico dos ideiais e tarefas, propugnados pela Grande Revolução Proletário-Socialista de 1917.  

[4] Destaco que esse último parágrafo do discurso em tela não se encontra presente na publicação de 1926 que utilizei como referência fundamental de tradução. Porém, a versão desse mesmo discurso, publicada em 1939 e todas as versões posteriores, contidas nas Obras Completas de Lenin, em língua russa, – bem como suas respectivas traduções em língua alemã – incluem-no expressamente.

[5] Também esse último parágrafo do discurso em destaque não se encontra presente na publicação de 1926 que utilizei como referência fundamental de tradução. Porém, a versão desse mesmo discurso, publicada em 1939 e todas as versões posteriores, contidas nas Obras Completas de Lenin – bem como sua respectiva traduções em língua alemã – incluem-no expressamente.