90 ANOS DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA
PROLETÁRIA RUSSA DE OUTUBRO DE 1917
MORAL E CONSCIÊNCIA, ORGANIZAÇÃO E
DIREÇÃO DAS LUTAS REVOLUCIONÁRIAS
DE EMANCIPAÇÃO
PROLETÁRIO-SOCIALISTA
TEXTOS DE CÉLEBRES
DIRIGENTES BOLCHEVIQUES SOBRE J. M. SVERDLOV
Quem
São os Revolucionários Profissionais ?
Os
Exemplos Paradigmáticos de
I. V. BABUSHKIN E J. M. SVERDLOV
EMELIAN
M. YAROSLAVSKY[1]
Concepção e Organização, Compilação e Tradução Asturig Emil von München
Agosto de 2003 emilvonmuenchen@web.de
Voltar ao Índice Geral http://www.scientific-socialism.de/SverdParteIVolI-A.htm
Os pensamentos que Lenin desenvolveu no “Iskra (A Centelha)” sobre
alguns problemas relacionados com a organização do Partido do proletariado
revolucionário foram por ele
apresentados, mais tarde, de modo claro, em um de seus melhores trabalhos : um
livrinho intitulado “O Que Fazer ?”.
Esse livrinho deve
ser lido por todos os que pretendem estudar, de maneira realmente séria, a
história do Partido Bolchevique.
Nessa sede, Lenin elucida os problemas mais importantes da luta revolucionária
e da organização partidária, não apenas para o tempo em que esse seu livrinho
fora redigido, senão também para todas as décadas que viriam a seguir.
Com “O Que Fazer ?”, os trabalhadores de diversos países podem, ainda
hoje, muito apreender para executar aquilo que têem de fazer, visando ao
desenvolvimento da luta de classes e ao atingimento do objetivo por eles
perseguido.
Obviamente, terão
de levar em conta, nesse contexto, as diferenças das condições da luta e do
trabalho de seus países, os contrastes relativos às situações políticas e
sociais, porquanto não podem acolher todas as coisas literalmente.
Em seu livrinho em
foco, Lenin levanta, em primeira linha, a questão da construção do
Partido.
Demonstra que o
Partido há de ser construído de modo centralista, i.e.
deve ser guiado por um centro dirigente.
Outrora, isso era
particularmente importante para a Rússia
porque, em nosso Partido, a confusão ideológica, a fragmentação e a
improvisação predominavam.
Todas as
organizações agiam consoante o seguinte princípio :
“Cada qual do seu jeito.”
E, ainda :
“Ninguém tem de persuadir-me a fazer nada.”
Entretanto, como
toda a experiência veio a demonstrar posteriormente, a construção centralista é uma necessidade incondicional para um Partido de luta. (...)
O livrinho “O Que Fazer?” trata também da questão concernente à construção de uma
organização de profissionais revolucionários.
No II Congresso do Partido
Social-Demócratico Operário Russo (POSDR),
essa questão provocou uma resistência particularmente
forte da parte dos mencheviques (...)
Estes defendiam a
concepção de que até mesmo um professor qualquer que não possuísse
absolutamente a intenção de ingressar no Partido, por prestar-lhe apenas esse
ou aquele serviço determinado, poder-se-ia tornar um membro do Partido.
“O Que fazer?” dirigi-se, além disso, contra a “liberdade de crítica”.
Esta levava a que
cada uma das organizações partidárias, cada membro do Partido, propagasse
quaisquer tipos de concepções, julgadas convenientes, a seu bel prazer.
Acerca dessa
questão, Lenin escreveu o seguinte:
“Oh sim, meus Senhores, vocês são livres não apenas
para exortarem, senão ainda para irem aonde quiserem...
Porém, ... nós também somos “livres” para irmos
aonde quisermos.
Livres não só para lutar contra o pântano, mas
também contra os que se dirigem para o pântano !”
(cf. V. I. Lenin, Obras
Completas, Vol. 4, Tomo 2, p. 135).
Lenin referiu-se
ao fato de que a “liberdade” é uma grande
palavra.
Porém, há na
história casos em que, sob a máscara desse vocábulo, são conduzidas diversas
guerras de rapina.
Lenin assinalou
que os bolcheviques, por serem um Partido de lutadores dotados
da mesma convicção, caminhavam por
um desfiladeiro escarpado e necessitavam ter cuidado com os que enchíam a boca
com a “liberdade
de crítica” e, com isso,
procuravam empurrar o Partido para o abismo, para o precipício, para dentro do
pântano.
Já a esse tempo,
surgiu a questão de saber o que deve ser o Partido : se pode estruturar-se
apenas com companheiros dotados da mesma convicção ou comportar em seu interior
quaisquer tipos de frações, correntes e grupos ?
No livrinho “O Que Fazer ?”, Lenin abordou essa questão assinalando que :
·
é imprescindível,
separarmo-nos, logo de início e resolutamente, dos “economistas” e outros grupos semelhantes ;
·
é mister opor
nosso ponto
de vista marxista-revolucionário
contra todas as demais concepções e combater essas últimas.
Há que demonstrar
por que os bolcheviques não estão com elas de acordo e, depois, dizer :
“Se vocês
desejam uma unificação com fundamento em nosso programa e com base em nossas
concepções – muito bem; caso contrário, torna-se imprescindível levar adiante
uma luta contra vocês mesmos.”
Juntamente com o “Iskra (A Centelha)”, o
livrinho “O
Que Fazer ?” assestou o mais
intenso golpe contra o espírito de improvisação.
Direcionou a
atenção das organizações e dos companheiros para as tarefas político-gerais.
Estes possuíam a
falsa concepção de que o mais importante era dar fluência ao trabalho de nível
local, ao passo que o centro e as tarefas político-gerais surgiriam apenas em
dimensão secundária.
O livrinho “O Que Fazer ?” colocou diante de todos os marxistas a tarefa de
devotar a mais séria atenção à necessária manutenção do elevado prestígio do
revolucionário e do desenvolvimento das
qualidades revolucionárias.
Um papel
particular foi dedicado por Lenin à
incorporação de trabalhadores nos comitês e organizações do Partido.
Sem exagero,
pode-se dizer que o livrinho “O Que Fazer ?” foi o melhor guia para todos os organizadores do Partido e, em sua
parte principal, ainda permanece sendo.
Quem são os revolucionários profissionais ?
A resposta a essa
questão está contida nas características a seguir impressas que foram
atribuídas por Lenin aos companheiros Ivan V. Babushkin e Jakob M. Sverdlov.
Convém destacar,
porém, de início, que o próprio Lenin foi,
em verdade, o melhor paradigma de revolucionário profissional, para quem a
causa revolucionária era tudo em sua vida.
Em dezembro de
1910, Lenin escreveu um artigo em memória da morte de Ivan V. Babushkin, o primeiro correspondente operário iskrista,
formulando as seguintes palavras[2] :
“Vivemos sob condições malditas
nas quais são possíveis coisas do seguinte gênero :
Um grandioso militante do Partido,
orgulho do nosso Partido, um companheiro que dedicou, abnegadamente, sua vida
inteira à causa dos trabalhadores, veio a desaparecer, sem deixar vestígios.
E as pessoas mais próximas dele,
sua esposa e sua mãe, seus amigos mais estreitos, ficaram sem saber, durante
anos, o que com ele havia ocorrido :
Será que teria definhando, em
algum lugar de uma penitenciária ?
Será que sucumbira em uma dessas
prisões quaisquer ou conhecera uma morte heróica, em um embate, travado contra
o inimigo ?
Pois foi isso mesmo que aconteceu
com Babushkin,
ao ser fuzilado por Rennenkampf.
Ficamos sabendo de sua morte
apenas recentemente.
O nome Babushkin era
familiar e estimado por muitos social-democratas.
Todos os que o conheciam,
amavam-no e honravam-no por causa de sua energia e objetividade, profunda
firmeza revolucionária e candente dedicação à causa.
Em 1895, como trabalhador de Petersburgo, Babushkin,
juntamente com um grupo de outros companheiros conscientes, dirigiu
energicamente o trabalho nos distritos, situados atrás do Portão Neva, em
meio aos trabalhadores das fábricas Semianikov, Alexandrov e da
indústria de vidro.
Formou círculos, fundou
bibliotecas e aprendeu, durante todo o tempo, de modo apaixonado.
Todos seus pensamentos
direcionavam-se para a perspectiva de como ampliar o trabalho.
Babushkin tomou parte
ativa na elaboração do primeiro panfleto de agitação que
foi editado, no outono de 1894, em São Petersburgo.
Tratava-se de um panfleto
dirigido aos trabalhadores da fábrica Semianikov que o
próprio Babushkin, em pessoa, foi distribuir.
Quando se formou em Petersburgo a “Liga de Luta pela
Emancipação da Classe Trabalhadora”, Babushkin tornou-se
um dos mais ativos de seus membros e nela trabalhou até o momento em que acabou
sendo preso.
A idéia da criação de um jornal
político no exterior que servisse à unificação e à consolidação do Partido Operário
Social-Democrático Russo (POSDR) foi discutida com ele e com seus
velhos companheiros do trabalho de Petersburgo, os
fundadores do “Iskra (A Centelha)”.
Tal idéia encontrou junto a Babushkin o
mais inflamado apoio.
Enquanto encontrava-se em
liberdade, o “Iskra (A Centelha)” não sofria de nenhuma
insuficiência de correspondentes operários.
Examinem-se os primeiros vinte
(20) números desse jornal político:
Todos aqueles correspondentes,
procedentes de Shuia, Ivanovo-Voznecensk, Orekhovo-Zuievo e de outras
localidades da Rússia Central, quase todos eles haviam passado
pelas mãos de Ivan Vassilievitch que se
esforçara por produzir a ligação mais estreita entre o “Iskra (A Centelha)” e os
trabalhadores.
Babushkin foi o mais
devotado correspondente iskrista e um dos adeptos mais ardentes desse jornal
político.
Da região central da Rússia, Babushkin
transferiu-se para o sul, para Ekaterinoslav, onde foi
preso e lançado na cadeia de Alexandrovsk.
De Alexandrovsk, Babushkin
fugiu, juntamente com um outro companheiro, depois de terem serrado as grades
da janela.
Sem possuir conhecimento de
língua estrangeira alguma, dirigiu-se para Londres,
onde, outrora, encontrava-se a redação do “Iskra (A Centelha)”.
Em Londres,
muitas coisas foram discutidas e muitas questões, conjuntamente decididas.
Porém, Ivan
Vassilievitch não conseguiu estar presente no II Congresso do Partido ... :
A prisão e o exílio arrancaram-no
do nosso fronte, durante um longo tempo.
A onde revolucionária que emergia
produziu novos trabalhadores, novos quadros do Partido, enquanto Babushkin
vivia, durante esse tempo, no longíngüo norte da Sibéria, em Verkholensk,
subtraído à vida partidária.
Porém, não desperdiçou tempo
inutilmente.
Estudou, preparou-se para a luta,
ocupou-se com trabalhadores e companheiros de exílio, esforçando-se por deles
fazer social-democratas conscientes e bolcheviques.
Em 1905, adveio uma anistia e Babushkin
pôs-se a caminho da Rússia.
Porém, também na Sibéria, por
volta desse período, as ondas entravam em ebulição e pessoas como Babushkin eram
necessitadas por aqueles lados.
Ingressou, então, no Comitê de Irkutsk e
lançou-se avidamente ao trabalho.
Cumpria intervir nas assembléias,
impulsionar a agitação social-democrática e organizar a insurreição.
Quando Babushkin e
outros cinco outros companheiros – cujos nomes não chegaram até nós – levavam à
Tschita um
grande transporte de armas, no interior de um vagão especial, seu trem foi detido
pela Expedição
Punitiva de Rennenkampf e todos os seis, sem qualquer
processo judiciário, foram imediatamente fuzilados, justamente à beira de uma
cova coletiva, cavada por eles mesmos.
Morreram como heróis.
Alguns soldados, testemunhas
oculares de seu assassinato, e trabalhadores ferroviários, passageiros desse
mesmo trem, contaram sobre sua morte.
Babushkin caiu vítima
de uma justiça sumária selvagem, organizada por um carrasco czarista.
Porém, ao morrer, sabia que a
causa a que havia devotado toda a sua vida não morreria, essa obra haveria de
ser realizada por dezenas, centenas de milhares e milhões de outras mãos, por
essa causa haveriam de morrer outros companheiros trabalhadores, outros ainda
lutariam, até que a vitória fosse conquistada ...
Há pessoas que produziram e
difundiram a fábula de que o Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR) seria
um partido
da « inteligência », os trabalhadores estariam dele distanciados,
os trabalhadores, na Rússia, seriam
social-democratas sem Social-Democracia.
Assim haveria de prosseguir
sendo, em particular, até à revolução e, em considerável medida, durante a
revolução.
Os liberais espalham essas
mentiras por ódio à luta revolucionária de massas que o POSDR dirigiu
em 1905.
Também entre socialistas há os
que acolhem essa teoria mentirosa, como por ignorância ou negligência.
A biografia de Ivan
Vassilievitch Babushkin, expressando
o trabalho social-democrático de dez anos desse trabalhador-iskrista, serve,
manifestamente, como refutação das mentiras liberais.
I. V. Babushkin foi um
desses trabalhadores avançados que, dez (10) anos antes
da Revolução
de 1905, começou a fundar um partido social-democrático dos
trabalhadores.
Sem o trabalho incansável e
heroicamente perseverante de tais precursores, pertencentes às massas
proletárias, o POSDR não conseguiria completar dez anos e nem
mesmo dez meses de vida.
Apenas devido às atividades
desses precursores, tão somente graças ao seu apoio, o PODSR
alcançou, em 1905, a condição de Partido que se fundiu, indissoluvelmente, com
o proletariado, nos grandes Dias de Outubro e Dezembro, mantendo
essa ligação na pessoa dos Deputados Trabalhadores, não
apenas na II Duma como também na III Duma dos Cem-Negros.
Os liberais (os cadetes) querem
tornar herói popular o Presidente da I Duma do Estado, S. A.
Murontsev, morto pouco
tempo faz.
Nós, social-democratas, não
devemos perder a oportunidade de expressar nosso desprezo e nosso ódio ao Governo Czarista que
persegue até mesmo funcionários tão moderados e inofensivos como Murontsev.
Murontsev foi apenas
um funcionário liberal.
Nem sequer foi um democrata.
Temia a luta revolucionária das
massas.
Esperava obter liberdade para a Rússia não a
partir dessa luta, senão a partir da boa vontade da autocracia czarista, a
partir de um entendimento mantido com esse mais hostil e impiedoso inimigo do
povo russo.
Em pessoas como essa, é risível,
porém, entrever heróis populares da Revolução Russa.
Porém, tais heróis populares existem.
São pessoas como Babushkin.
São pessoas que se dedicaram
inteiramente à luta em prol da libertação da classe trabalhadora, não apenas um
ou dois anos, senão todo um decênio antes da revolução.
São pessoas que não se
desperdiçaram em empreendimentos terroristas despropositados e isolados, mas
sim atuaram, intrepidamente e com pertinácia, em meio às massas proletárias,
ajudando-as a desenvolver sua consciência, sua organização e sua atividade
revolucionária independente.
São pessoas que se colocaram à
cabeça da luta armada das massas contra a autocracia czarista, quando a crise
adveio e a revolução rebentou, quando milhões e milhões de seres humanos se
colocaram em movimento.
Tudo aquilo que foi arrancado da
autocracia czarista foi arrancado exclusivamente pela luta das massas,
dirigidas por homens como estes, por homens como Babushkin.
Sem pessoas como estas, o povo
russo permaneceria sendo eternamente um povo de escravos, um povo de vassalos.
Com pessoas como estas, o povo
russo conquistará sua inteira libertação de toda forma de exploração.
Já transcorreram cinco
aniversários da Insurreição de Dezembro de 1905.
No aniversário desse ano,
desejamos homenagear a memória dos trabalhadores avançados que cairam na luta
travada contra o inimigo.
Dirigimo-nos aos companheiros
trabalhadores com o pedido de reunirem-se e enviarem-nos recordações da antiga
luta e informações adicionais sobre Babushkin, como
também sobre outros trabalhadores social-democráticos que tombaram na Insurreição de 1905.
Pretendemos lançar uma brochura
com a descrição da vida desses trabalhadores.
Essa brochura constituirá a
melhor resposta a ser dada a todos os céticos e menosprezadores do significado
do POSDR.
A brochura em foco será a melhor leitura
para os jovens trabalhadores que nela aprenderão como devem viver e agir todos
os trabalhadores conscientes.”
Em seu discurso
pronunciado em homenagem do companheiro Jakob M. Sverdlov, no dia 18 de março de 1919, perante a VI Sessão do Comitê Executivo
Central de Toda a Rússia (VtsIK), Lenin veio, então, a afirmar o seguinte[3] :
Companheiros !
No dia em que os trabalhadores de todo o mundo
comemoram a Insurreição Heróica da Comuna de Paris e seu trágico
desate, temos de levar ao sepulcro o Companheiro
J. M. Sverdlov.
No decorrer de nossa revolução e de suas
vitórias, o Companheiro Sverdlov conseguiu expressar, do modo
mais completo e mais efetivo do que qualquer outra pessoa, a própria essência
da Revolução Proletária.
Nisso se encerra seu significado enquanto
dirigente dessa revolução em grau ainda muito mais elevado do que a sua
fidelidade ilimitada à causa revolucionária.
Segundo as pessoas superficiais, segundo os
nossos inimigos, segundo as pessoas que oscilam entre a revolução e seus adversários,
salta aos olhos, sobretudo, o acerto de contas, decidido e impiedosamente
severo, da revolução com os exploradores e inimigos do povo trabalhador.
Sem a violência
revolucionária, o proletariado não poderia, evidentemente, ter vencido.
Porém, não existe dúvida de que a violência revolucionária se apresenta
como necessária e lícita tão somente em determinadas circunstâncias, enquanto
que o atributo muito mais essencial na revolução, bem como o pressuposto de sua
vitória, é a organização das massas proletárias.
Nessa organização reside a profunda fonte de sua
vitória.
Precisamente esse lado da revolução proletária
também produziu, no processo das lutas, os seus dirigentes que incorporaram a
particularidade da Revolução Proletária
: a organização das massas.
Esse traço da Revolução Proletária produziu, igualmente, o Companheiro Sverdlov que foi, antes de tudo e em primeira linha, um
organizador.
Companheiros !
Particularmente nos tempos difíceis da
preparação incessante, dolorosa e incomensuravelmente longa da revolução, nós,
russos, tivemos de sofrer sobretudo em razão da divergência entre teoria,
princípios, programa e prática.
A história do nosso
movimento revolucionário conhece, ao longo de muitas décadas, personagens
dedicados à revolução que, entretanto, não puderam assegurar aplicação prática
ao seu ideal revolucionário.
Apenas a Revolução Proletária forneceu a base
autêntica, o fundamento verdadeiro, o auditório real.
E aqui, acima de tudo,
destacaram-se aqueles dirigentes que conseguiram conquistar para si um lugar
proeminente como organizadores práticos.
Por direito, esse
lugar pertencenceu ao Companheiro Sverdlov.
Se lançarmos um olhar em sua vida, perceberemos
que seu notável talento de organização formou-se no quadro de prolongadas lutas.
Cada uma de suas
qualidades extraordinárias de grande revolucionário foram forjadas por ele
mesmo, vivenciando-as e colocando-as à prova nas diferentes épocas e sob as
condições mais difíceis da atividade de um revolucionário profissional.
No primeiro período de
seu trabalho, ainda quando jovem, logo que despertou sua consciência política,
dedicou-se, inteiramente, à revolução.
Nessa época, bem no
início do século XX, o Companheiro
Sverdlov surgia diante de nós como o tipo mais marcante de revolucionário
profissional - um homem que rompera
totalmente com sua família, com todas as comodidades e costumes da velha
sociedade burguesa[4].
Rompeu com sua família
e com todos os hábitos da sociedade burguesa, trocando, ao longo de prolongados
anos, o cárcere pelo exílio e o exílio pelo cárcere, consolidando-se como
revolucionário.
Porém, esse revolucionário profissional jamais,
nem mesmo por um só minuto, separou-se das massas.
As condições sob o czarismo forçaram-no, tal
como a todos os revolucionários daqueles tempos, à atividade clandestina,
ilegal.
Porém, também nela, o Companheiro Sverdlov seguiu sempre ombro a ombro e de mãos dadas,
com os trabalhadores avançados que, logo a partir do início do século XX,
começaram a ocupar as próprias fileiras das gerações precedentes de
revolucionários da inteligência.
Precisamente a essa altura, trabalhadores
avançados surgiram às dezenas e centenas.
Educaram-se para o rigor das lutas
revolucionárias, não perdendo, ao mesmo tempo, as mais firmes ligações com as
massas, sem as quais não poderia ter existido uma revolução vitoriosa do
proletariado.
Justamente essa longa
trajetória do trabalho ilegal constitui, antes de tudo, o elemento
característico para um homem que, permanentemente participando da luta, jamais
se separou das massas, jamais abandonou a Rússia,
sempre atuou conjuntamente com os melhores dos trabalhadores, logrando formar
em si mesmo, apesar daquele isolamento de vida ao qual era condenado o revolucionário
pelas perseguições, não apenas o dirigente amado pelos trabalhadores, não
apenas o dirigente que profunda e principalmente conhecia o trabalho prático,
mas também o organizador dos proletários mais avançados[5].
Alguns pensavam - entre esses, freqüentemente,
nossos inimigos ou as pessoas mais oscilantes - que o trabalho ilegal, traço
obrigatório do revolucionário profissional, separava-o das massas.
Porém, o exemplo da atividade do Companheiro Sverdlov demonstra o quanto é falso esse ponto de vista.
Precisamente a devoção ilimitada à causa da
revolução daqueles que percorreram muitas prisões e os mais remotos lugares dos
exílios siberianos forjaram dirigentes como o Companheiro Sverdlov, no momento em que tal devoção conjugou em
seres humanos inteligência e capacidade para impulsionar o trabalho de
organização.
Tão somente ela foi capaz de produzir talentos
de organização.
Através de círculos ilegais, através do trabalho
revolucionário clandestino, através do partido ilegal, o Companheiro Sverdlov logrou alcançar o posto de primeiro homem na primeira República Socialista, o posto de primazia entre os
organizadores das amplas massas proletárias.
Companheiros !
Todos aqueles que trabalharam dia após dia com o
Companheiro Sverdlov viram, de modo
particularmente claro, que seu singular talento de organização assegurou-nos
aquilo de que nos orgulhamos, com pleno direito.
Assegurou-nos a possibilidade de um trabalho
organizado, adequado, unânime, que se tornaria digno das massas proletárias
organizadas, trabalho esse sem o qual não poderia existir sucesso algum nem
seria possível dar resposta, na mais plena dimensão, às necessidades da Revolução Proletária.
Nesse trabalho ardente que, em tempos de
revolução, exige dirigir revolucionários, um valor colossal representa a
autoridade moral a qual adquire sua força, naturalmente, não em uma moral
abstrata, mas sim na moral do lutador revolucionário, na moral das fileiras e
dos elos das massas revolucionárias.
Se conseguimos, durante mais de um ano, levar o
fardo que sobrecarregava um pequeno círculo de revolucionários devotados, se os
grupos dirigentes conseguiram decidir as questões mais difíceis tão firme e
unanimemente, foi exclusivamente porque um posto proeminente entre eles foi
ocupado por um organizador tão singularmente talentoso como Jakob Mikhailovitch.
Tão somente ele conseguiu reunir em si um
conhecimento admirável do quadro do pessoal dirigente do movimento proletário,
tão somente ele conseguiu formar em si mesmo, no curso de longos anos de luta,
o instinto da prática e o talento de organizador, bem como alcançar aquela
autoridade indiscutível, em virtude da qual dirigiu, individualmente, grandes
setores inteiros de trabalho do Comitê
Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia (VTsIK), para os quais
teria sido necessário todo um grupo de pessoas.
Apenas ele conseguiu conquistar a posição, na
qual bastava uma única palavra sua sobre certa questão para que fosse esta
decidida de uma vez por todas, sem qualquer consulta e sem qualquer votação
formal.
E, junto a todos, surgia a certeza de que havia
sido decidida precisamente, tal como cumpria sê-lo, de modo que não apenas os
trabalhadores avançados, mas também todas as massas operárias, consideravam
essa decisão como definitiva.
A história sempre demonstrou que as grandes
revoluções engendram grandes personalidades, bem como desenvolvem talentos que
antes eram considerados impossíveis.
Ninguém teria acreditado que da escola do
círculo ilegal e do trabalho clandestino, da escola de um pequeno partido
perseguido, do cárcere de Turukhansk,
pudesse proceder um tal organizador que, em virtude de seu próprio
conhecimento, exerceu uma autoridade absolutamente indiscutível enquanto organizador de todo o Poder Soviético da
Rússia, organizador singular do
trabalho do partido.
Organizador extraordinário desse partido que
criou os Soviets e, na prática, executou o Poder
Soviético – poder esse que agora empreende sua difícil e dolorosa marcha, inundada
de sangue, porém vitoriosa, através de todos os países do mundo.
Um tal homem não lograremos substituir jamais,
se entendermos por substituição a possibilidade de encontrar um companheiro que
unifique em si tais capacidades.
Nenhum daqueles que conheceram Jakob Mikhailovitch pode duvidar que,
nesse sentido, o Companheiro J. M.
Sverdlov é insubstituível.
O trabalho que sozinho realizou será doravante
realizado, necessariamente, apenas por grupos de pessoas que, prosseguindo
conforme suas pegadas, darão seqüência ao seu trabalho.
Entretanto, a força da Revolução Proletária reside precisamente na profundeza de suas
fontes.
No lugar daqueles que dedicaram ilimitadamente
suas próprias vidas à revolução e aderiram às lutas, a Revolução Proletária produz outras fileiras de pessoas que, talvez,
sejam menos experimentadas, menos versadas, menos preparadas, mas que
prosseguirão a sua obra, vinculando-se às amplas massas e capacitando a si
mesmas a se colocarem no lugar dos grandes talentos precedentes.
Nesse sentido, encontro-me profundamente seguro
de que a Revolução Proletária na Rússia
e no mundo inteiro gerará diversos grupos de pessoas, inúmeras camadas de
proletários e de camponeses trabalhadores que aportarão à vida significado
prático e talento de organização, senão individual, então coletivo, sem o qual
não será possível atingir a vitória.
A mémoria do Companheiro J. M. Sverdlov
servirá não apenas como símbolo de devoção do revolucionário à sua causa, não
apenas como exemplo de vinculação de habilidade e sobriedade práticas, de
perfeita conexão com as massas e de capacidade de as dirigir.
Ela nos assegurará, além disso, a garantia de
que massas cada vez mais amplas de proletários avançarão sempre adiante, rumo à
vitória completa da Revolução Comunista.
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. YAROSLAVSKY, EMELIAN MIKHAILOVITCH. Aus der Geschichte der Kommunistischen Partei der Sowjetunion - Bolschewiki (História do Partido Comunista
da União Soviética – Bolchevique)(1926), em particular Erster Teil : Von der
Narodnikibewegung bis zum Imperialistischen Krieg (No Movimento dos Populistas
até a Guerra Imperialista), Capítulo IV : Die Periode des Zerfalls, des
ideologischen Wirrwarrs und der Schwankungen – Der Kampf der “Iskra” (O Período
da Decomposição, da Confusão Ideológica e das Vacilações – A Luta do “Iskra”),
Hamburg – Belim : Carl Hoym Nachfolger, 1929, pp. 80 e s.
[2] Destaco que o presente
texto de Lenin, dedicado a Babushkin e reproduzido apenas parcialmente no
artigo de Yaroslavsky em tela, traduzi-o, aqui, integralmente, em língua portuguesa,
a partir de LENIN, VLADIMIR ILITCH
ULIANOV. Ivan Vassilievitch Babushkin. Nekrolog (I. V. Babushkin.
Necrológio) (18.12.1910), in: W. I. Lenin Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras
Completas Reunidas de V. I. Lenin), Vol. 20, Moscou : Gosudarstvennoe
Izdatel’stvo, 1961, pp. 79 e s.
[3] A presente tradução em língua
portuguesa foi efetuada a partir do texto original em língua russa de LENIN, VLADIMIR ILITCH ULIANOV. Pamiati
Y. M. Sverdlova. Retch’ V. I. Lenina. „Pravdy“ i „Izvestia“ ot 20 Marta 1919. Tcherezvytchainoe
Zacedanie VTsIK. 18 Marta, Posviaschennoe Pamiati Predcedatelia VTsIK Tav.
Sverdlova (Em Memória de J. M. Sverdlov. Discurso de V. I. Lenin. “Pravda” e
“Izvestia” de 20 de março de 1919. Sessão Extraordinária do Comitê Executivo
Central dos Sovietes de Toda a Rússia (VTsIK) de 18 de Março. Discurso Dedicado
à Memória do Presidente do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a
Rússia (VTsIK), Companheiro Sverdlov), in: Yakov Mikhailovitch Sverdlov. Sbornik
Vospominanii i Statei(Jakob Mikhailovitch Sverdlov. Compêndio de Recordações e
Artigos), ed. ISTPART - Otdel TS.K.R.K.P.(b.) po Izutcheniiu Istorii
Oktiabrskoi Revoliutsii i R.K.P.(b.), Leningrad : Gosud. Izdatel-vo Leningrad,
1926, pp. 53 e s., como também em conformidade com IDEM. Retch’ Pamiati Y. M. Sverdlova na Ekstriennom Zacedanii
VTsIK 18 Marta 1919 g. (Discurso em Memória de J. M. Sverdlov Pronunciado na
Sessão Extraordinária do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a
Rússia, em 18 de Março de 1919)(18.03.1919), in : V. I. Lenin. Polnoe Sobranie
Sotchinenii (Obras Completas de Lenin), Moscou : GIPL, 1961, Vol. 38, pp. 74 e
s. Recordo que a designação ISTPART corresponde à abreviação
relativa à Comissão de Coletânea e Estudo dos Materiais acerca da História da
Revolução de Outubro e do Partido que, adjunta ao
Comitê
Central do Partido Comunista Russo, dirigido por Lenin, prestou, no
quadro da I República Socialista Federativa Soviética Russa, importantes
contribuições à valorização e à preservação da história da Grande
Revolução Proletária de Outubro. O colegiado dirigente dessa
mencionada comissão foi integrado, nos anos imediatamente posteriores à Revolução
de Outubro, pelo célebre bolchevique da velha guarda dos Urais N. N.
Baturin – nome de guerra de Nikolai Nikolaievitsch Samiatin -,
quando esse último lecionou na Universidade Comunista J. M. Sverdlov, de
Moscou. Após a morte de Lenin, o ISTPART passou
a, crescentemente, responder aos interesses das troikas, comandadas
por Stalin, para então, a partir de 1927, degenerar-se, completa
e irreversivelmente, em ferramenta de luta contra os fatos e valores
autenticamente proletários-revolucionários e internacionalistas de Outubro. Quanto ao presente discurso de Lenin, observo que foi concomitantemente
publicado, em 20 de março de 1919, nos jornais Pravda e Izvestia. O teor da presente tradução foi cotejado
ainda com a versão alemã de LENIN,
WLADIMIR ILITCH ULIANOV. Gedenkrede
für J. M. Swerdlow in der außerordentlichen Sitzung des gesamtrussischen
Zentralexekutivkomitees 18 März 1919(Discurso em Memória de J. M. Sverdlov,
Proferido na Sessão Extraordinária do Comitê Executivo Central de Toda a
Rússia, em 18 de Março de 1919), in: W. I. Lenin Werke (Obras de V. I. Lenin),
Vol. 29, Março-Agosto de 1919, Berlim : Dietz Verlag, 1961, pp. 74 e s. A
tradução para o idioma alemão foi elaborada a partir da quarta edição russa das
Obras
Completas de Lenin, editadas
pelo Instituto
de Marxismo-Leninismo do Comitê
Central do Partido Comunista da União Soviética, que compilou esse
mesmo discurso, entretanto, segundo sua versão de 1939, intitulada LENIN, VLADIMIR ILITCH ULIANOV. Retch
Pamiati Y. M. Sverdlova na Ekstriennom Zacedanii VTsIK 18 Marta 1919(Discurso
em Memória de J. M. Sverdlov, Proferido na Sessão Extraordinária do Comitê
Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia (VTsIK), de 18 de Março de
1919), in: Klavdia Timofeievna Novgorodtseva Sverdlova. Jakob
Mikhailovitch Sverdlov. Vospominaniia(Jakob Mikhailovitch Sverdlov.
Recordações), ed. Izdatel-vo TsKVLKSM., Moskva : Molodaia Gvardia, 1939, pp. 3
e s. Essa versão de 1939 e todas as suas edições posteriores, contidas nas Obras
Completas de Lenin, editadas em língua russa, – e, por consegüinte,
também a tradução alemã de 1961 – apresentam certas discrepâncias em relação ao
original russo publicado em 1926 pelo ISTPART que aqui utilizei como
referência fundamental. A fim de clarificá-las, confrontei a presente tradução
com os textos desse mesmo discurso de Lenin traduzido, porém, a partir
daquela versão russa e de sua tradução alemã, publicadas, respectivamente, em Moscou,
em 1939 - e, posteriormente, nas repetidas edições em língua russa das Obras
Completas de Lenin -, e em Berlim Oriental, em 1961. As
indicações de pé-de-página, formuladas adiante, permitirão ao leitor de, por si
mesmo, entrever as divergências existentes entre o texto original russo de 1926
e suas posteriores versões. Por fim, observo que o livro em referência de Klavdia
T. N. Sverdlova, editado em 1939, a despeito de apresentar importante
material fotográfico, bem como cartas e alguns documentos políticos, redigidos
por ou acerca de Sverdlov, reduziu, substancialmente, a publicação de 1926 do ISTPART
que contém, além de diversos artigos de bolcheviques da velha guarda,
redigidos em memória de Sverdlov, um capítulo específico de Trotsky
referente às suas recordações acerca desse grande dirigente bolchevique. O
livro de 1939 dispõe apenas da nova versão do discurso de Lenin, um artigo de Stalin
e as recordações de Klavdia T. N. Sverdlova. Quanto às recordações de Klavdia
– aí contidas e editadas visivelmente para procurar dissimular o dogmatismo
autocrático e os crimes da burocracia-operária contra-revolucionária,
orquestrados por Stalin e seus prosélitos, às custas do imenso prestígio
revolucionário de Sverdlov, – cumpre destacar que destoam, completamente, do
trabalho dessa autora, vindo a público posteriormente, em diferentes edições,
em 1957, 1960 e 1976, após a morte do insaciável verdugo e traidor despótico
dos ideiais e tarefas, propugnados pela Grande Revolução Proletário-Socialista de
1917.
[4] Destaco que esse último parágrafo
do discurso em tela não se encontra presente na publicação de 1926 que utilizei
como referência fundamental de tradução. Porém, a versão desse mesmo discurso,
publicada em 1939 e todas as versões posteriores, contidas nas Obras
Completas de Lenin, em língua russa, – bem como
suas respectivas traduções em língua alemã – incluem-no expressamente.
[5] Também esse último parágrafo do
discurso em destaque não se encontra presente na publicação de 1926 que
utilizei como referência fundamental de tradução. Porém, a versão desse mesmo
discurso, publicada em 1939 e todas as versões posteriores, contidas nas Obras
Completas de Lenin – bem como sua respectiva
traduções em língua alemã – incluem-no expressamente.