90 ANOS DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA PROLETÁRIA RUSSA DE OUTUBRO DE 1917

MORAL E CONSCIÊNCIA, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO DAS LUTAS REVOLUCIONÁRIAS

DE EMANCIPAÇÃO PROLETÁRIO-SOCIALISTA

TEXTOS DE CÉLEBRES DIRIGENTES BOLCHEVIQUES SOBRE J. M. SVERDLOV

 

JAKOB MIKHAILOVITCH SVERDLOV  

 

GRIGORY O. ZINOVIEV[1]

 

Concepção e Organização, Compilação e Tradução Asturig Emil von München

Junho de 2002 emilvonmuenchen@web.de

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Foi a partir de 1907 e 1908 - em especial depois do V Congresso do POSDR, ocorrido em Londres, entre 30 de abril e 19 de maio de 1907, – que, entre os membros do Centro Bolchevique (“CB”), começou-se a mencionar, reiterada e cada vez mais intensamente, o nome do companheiro Andrei.

Andrei não havia estado presente no congresso acima referido, porque, aparentemente, encontrava-se na prisão ou no desterro.

A seguir, no curso de 1908, seu nome passou a ser repetido, de maneira particularmente freqüente, entre os membros do Comitê Central Bolchevique (“CCB”), em um momento em que, em Petersburgo, as detenções devastavam nossa organização, de modo impiedoso.

O companheiro Lenin, que comandava o Centro Bolchevique (“CB”), havia-se deslocado, por aqueles tempos, para o exterior.

 

Todo esse espaço de tempo, transcorreu de tal forma que o companheiro Andrei jamais pôde vir a ter acesso a Petersburgo. 

Parece que, no início de 1909, nosso quadro então mais extraordinário do Comitê Central, I. P. Goldenberg (Meschkovsky), veio a visitar Geneva, onde, naquele tempo, já se encontrava, por resolução do Centro Bolchevique, também o escritor dessas linhas.

Antes de chegar à Geneva, Goldenberg percorrera diversas organizações e, aparentemente, encontrara-se, em algum lugar, novamente, com Andrei ou, no mínimo, ouvira falar de seu trabalho, ainda mais uma vez.

Recordo-me que, ao conversar com Lenin, Goldenberg referiu-se, de maneira elogiosa, a Andrei, opinando que seria um “autêntico membro do Comitê Central”.

Outrora, compartilhávamos com os mencheviques um mesmo e único Comitê Central, razão por que a questão concernente à cooptação de novos companheiros, máxime de companheiros bolcheviques, era muito complicada.

Além disso, Vladimir Ilitch Lenin insistiu em que era-lhe indispensável avistar-se com Andrei – o que acabou não acontecendo.

Combinamos com Goldenberg que, na primeira oportunidade, dever-se-ia providenciar a viagem de Andrei para o exterior, mesmo que fosse por um período extremamente curto de tempo.

Entretanto, também isso não pôde vir a ser realizado.

Tudo transcorreu de tal sorte que, a despeito do ardente desejo nutrido por Andrei de ir ao encontro de Vladimir Ilitch e apesar das prementes exigências de, subseqüentemente, organizarmos o encontro em tela, esse último terminou sendo inexequível.

A Okhrana (i.e. a Polícia Secreta Czarista) perseguia Andrei ininterruptamente.

De cadeia em cadeia, de deportação em deportação : esse foi seu itinierário permanente.

Durante curtos interstícios, quando se encontrava em liberdade, Andrei “despencava” sobre o trabalho.

As funções que executava eram, em grande parte, tão inadiáveis que esquivar-se delas, ainda que por algumas poucas semanas, parecia ser absolutamente impossível.

Até mesmo, a correspondência não funcionava direito, por alguma razão.

Às vezes, N. K. Krupskaya trazia consigo algumas poucas notícias que recebia de Andrei.

Krupskaya, por sua vez, escrevia, sem dúvida, muito freqüentemente, a ele, porém as circunstâncias existentes no estrangeiro atrapalhavam a regular manutenção de uma grande e sistemática correspondência.    

Nossas conexões com Andrei revitalizaram-se, um pouco mais, em 1913, quando encontrando-se em Petersburgo, assumiu toda a intervenção prática, dedicada à organização da fração bolchevique da Duma (o “hexágono”) e do “Pravda(A Verdade)”, bem como, naturalmente, todo o trabalho ilegal dos bolcheviques.

As relações com Petersburgo estavam, então, mais ou menos desembargadas e, quase todos os dias, recebíamos notícias sobre as “maravilhas”, realizadas em Petersburgo pelo companheiro Andrei.  

Naquela ocasião, Lenin ansiou maximamente por um breve encontro com Andrei.

Sem embargo, repetiu-se, então, a costumeira história:  o surgimento de uma nova prisão e um novo exílio de Andrei, em um localidade ainda mais longíngua.

Assim, não nos encontramos com ele, até ao ano de 1917.

 

Se não me equivoco, o primeiro encontro de V. I. Lenin com J. M. Sverdlov teve lugar, apenas, pouco antes da Conferência de Abril de 1917.

Nessa conferência, J. M. Sverdlov interviu na qualidade de delegado dos Urais.

Recordo-me de que, depois da conferência, desejava ardentemente dirigir-se, novamente, para os Urais e lá perseverar no trabalho local, em meio às massas.

Porém, o Partido não mais permitiu que J. M. Sverdlov abandonasse o centro, sendo que lhe cumpriu, dali para diante, permanecer irreversivelmente no trabalho central-partidário.           

 

*

*  *

 

A partir de então e até os últimos dias de sua vida, J. M. Sverdlov surgiu diante dos nossos olhos, incorporando a grande força de organização do nosso Partido.

Às vezes, parecia que já possuía, em sua cabeça, seu próprio “Departamento Organizativo” e “Repartição de Ensino”, constituídos ainda no tempo em que vivera no cárcere e no exílio desperadamente distante.

Do mesmo como V. I. Lenin havia surgido, na Rússia, depois da vitória da Revolução de Fevereiro de 1917, com um esboço traçado de toda a revolução proletária, J. M. Sverdlov dava-nos, às vezes, a impressão de que emergira do desterro distante, com um esboço organizativo já acabado de todo o trabalho do Partido e com um plano já concluído de distribuição dos principais grupos de trabalhadores, segundo os ramos de trabalho.

Discorrer sobre o fato de que J. M. Sverdlov foi um dos maiores organizadores do movimento proletário mundial avançado significa repetir algo geralmente conhecido.

Disso não é possível tratarmos de modo melhor do que o fez o companheiro Lenin, junto à sepultura de J. M. Sverdlov.

 

Certo dia, no início de 1918, pouco antes do VII Congresso do nosso Partido, justamente no ápice das disputas travadas contra os comunistas de “esquerda”, Sverdlov e eu fomos enviados de Leningrado a Moscou, a fim de promovermos uma “domesticação” dos comunistas de “esquerda” moscovitas, os quais “já há muito haviam-se distanciado ...”.

Recordo-me bem de como, no intervalo de algumas horas, transcorridas no trem, foi elaborado, em todos os seus detalhes, todo o trabalho, a ser encaminhado no VII Congresso.

J. M. Sverdlov conhecia, magistralmente, quem precisamente chegaria de que localidade para esse congresso, que tipos de matizes e nuances existiam no interior de cada uma das delegações, quais seriam as oscilações até mesmo de cada companheiro, individualmente considerado.

Prognosticou, de modo inteiramente preciso, as correlações numéricas de forças, existentes nesse congresso.

Ali mesmo, elaborou-se um esboço do quadro dos novos membros do Comitê Central, estabeleceu-se a distribuição dos encarregados com a apresentação de informes, definiu-se a composição das principais comissões etc. etc.

De alguma maneira, aquele caderninho, contendo as anotações de J. M. Sverdlov, veio a parar, no final das contas, em minha mão.

 

Recordo-me, também, de um encontro meu e de Sverdlov com Vladimir Ilitch Lenin, em Gorki, quando este já se encontrava recuperado de seu ferimento.

Eu acabara de realizar, então, a edição de um livro sobre V. I. Lenin, intitulado “Ensaio sobre a Vida e as Atividades de V. I. Lenin”.[2]

 

Ao entregar um exemplar do livro a J. M. Sverdlov, fiz a seguinte dedicatória :

 

“Ao bolchevique Ignaz Auer, o mais extraordinário organizador da Social-Democracia Alemã, ao tempo do seu florescimento.”

 

Sorrindo, Lenin exigiu-me que fosse acrescentado :

 

“... isento, porém, do oportunismo de Auer”, o que ali mesmo executei prontamente.

 

E com efeito : o oportunismo político era estranho ao nosso organizador bolchevique.

J. M. Sverdlov unificava insuperável talento de organizador com ampla visão política, possuída apenas por autêntico dirigente de uma Grande Revolução.

Disso Sverdlov deu-nos provas em todas as etapas de desenvolvimento do nosso Partido – desde a preparação clandestina da revolução, em círculos ilegais, até à sua vitória, na arena mundial.

O sangue frio e a coragem desse militante eram conhecidos por todos, no meio bolchevique.

O Partido conheceu o seu organizador, em diversos momentos : tanto nos anos difíceis do regime carrasco de Stolypin, como nos primeiros dias, posteriores à Revolução de Fevereiro, quando o bolchevismo reuniu, mais uma vez, seu grupo de luta, e, assim também, nos dias subseqüentes à Derrota Anaquiladora de Julho de 1917, em cuja ocasião o dirigente do nosso Partido, V. I. Lenin, foi forçado a passar para a clandestinidade.

O Partido observou Sverdlov, presidindo a reunião ilegal dos membros do Comitê Central, ocorrida no quarto do menchevique Suchanov, no momento em que se decidiu a questão relativa à Insurreição Armada de Outubro.

Entreviu-o, na primeira e única sessão da Assembléia Constituinte.

Contemplou-o, permanentemente, quando exercia as funções de Presidente, no I Congresso dos Sovietes (Conselhos).

Admirou-o enquanto dirigente daquele tempestuoso congresso que coincidiu com a tão mencionada Insurreição dos Socialistas-Revolucionários (SRs) de Esquerda etc. etc.

 

Lembro-me da primeira noite desesperadora, transcorrida após o ferimento de Vladimir Ilitch Lenin, provocado pelo atentado de Fanii Kaplan contra a sua vida.

Recebi de J. M. Sverdlov a primeira notícia sobre o fato em referência por meio de telefonema, efetuado de Moscou a Petrogrado.

Nas primeiras horas, tudo dava a crer que a bala alojada no corpo de Lenin conduziria a um fim fatal.

Combinei com Sverdlov que ele próprio devia telefonar-me, a cada hora que passasse.

E, de fato : ao longo de toda a noite, conforme combinamos, soaram as tais chamadas telefônicas, quando, então, o barítono “sverdloviano” informava-me - dessa vez, com excitante vibração – sobre a evolução da doença de Lenin.

Segundo sei, essa foi a única vez em que soou, de modo excitado, a voz inabalável de Sverdlov.

 

Já escreveram, até mesmo de modo suficiente, que J. M. Sverdlov foi um companheiro extraordinário.

Conseguia ser irredutível, quando a questão versava sobre diferenças, havidas com inimigos políticos.

Porém, quando se tratava de divergências, existentes entre bolcheviques, ninguém jamais excedia Sverdlov em objetividade e mais fazia do que ele, para “atenuar” dissensões.

 

Sverdlov morreu, tal como haveria de ser, no curso do movimento...

Ao nosso Partido, quanta falta faz Sverdlov, precisamente agora, quando nos encontramos no caminho da época da grande construção !       

O nome de Sverdlov será lembrado, através dos séculos, juntamente com o nome de Lenin.

A imagem de Jakob Mikhailovitch Sverdlov constituirá, de geração em geração, um paradigma para os melhores companheiros militantes da Revolução Proletária.

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS

 



[1] Cf. ZINOVIEV, GRIGORY OVSEYEVITCH. Yakov Mikhailovitch Sverdlov, in : Yakov Mikhailovitch Sverdlov. Sbornik Vospominanii i Statei (Jakob Mikhailovitch Sverdlov. Coletânea de Recordações e Ensaios), ed. ISTPART : Otdel TS.K.R.K.P.(b.) po Izutcheniiu Istorii Oktiabrskoi Revoliutsii i R.K.P.(b.), Leningrad : Gosudarstvennoe Izdatelstvo Leningrad, 1926, pp. 57 e s.

[2] Nesse sentido, vide, em língua russa IDEM. Lenin, 2a. Ed., Leningrado : Gosud. Izd-vo., 1925, pp. 7 e s.; tb., em língua alemã, IDEM. N. Lenin. Sein Leben und Seine Tätigkeit (N. Lenin. Sua Vida e suas Atividades), Trad. Julian Gumperz, Berlim : Malik, 1920, pp. 3 e s.