TEXTOS ESTATUTÁRIOS, PROGRAMÁTICOS E ORGANIZATIVOS
DO PARTIDO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIO
EM FACE DOS PROJETOS SOCIAIS-REFORMISTAS E ORGANIZATIVO-OPORTUNISTAS
DOCUMENTOS PROGRAMÁTICOS, ESTATUTÁRIOS E
ORGANIZATIVOS DO MARXISMO REVOLUCIONÁRIO
EM FACE DO REFORMISMO SOCIAL E DO
OPORTUNISMO ORGANIZATIVO
Programa do Partido Comunista da Alemanha
(Liga Spartakus)
Adotado em seu Congresso Fundacional
de 30 de Dezembro de 1918 a 1° de Janeiro
de 1919[1]
Concepção e Organização, Compilação e
Tradução
Asturig Emil von München
Novembro de 2004
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http://www.scientific-socialism.de/TextosdoPartidoMRCapa.htm
I
Em 9 de novembro,
trabalhadores e soldados destruíram, na Alemanha, o velho regime. Nos campos
de batalhas da França, dissipou-se a ilusão sangüinolenta da dominação
mundial, alimentada pelo sabre prussiano. O bando de criminosos que abrasou o
incêndio mundial e afogou a Alemanha em um mar de sangue, chegou
ao fim do seu latim. A serviço do dever de culto ao Deus Moloch, o povo enganado
durante quatro anos que se esquecera do sentimento de honra e de humanidade,
permitindo-se usurpar por toda e qualquer infâmia, despertou do torpor
quadriênio – diante do abismo.
Em 9 de novembro, insurgiu-se
o proletariado alemão para lançar por terra o jugo ignominioso. Os Hohenzollern
foram desbaratados, Conselhos de Trabalhadores e Soldados, eleitos.
Porém, os Hohenzollern
nada mais eram senão os encarregados dos negócios da burguesia e da nobreza
latifundiária imperialistas. A dominação da classe burguesa é a verdadeira
culpada pela Guerra Mundial tanto na Alemanha quanto na França,
tanto na Rússia quanto na Inglaterra, tanto na Europa
quanto nos Estados Unidos da América. Os capitalistas de todos os países
são os verdadeiros instigadores do genocídio. O capital internacional é o
insaciável Deus Baal à mercê do qual milhões e milhões de vítimas humanas
evoladas foram submetidas à vingança cruenta.
A Guerra
Mundial colocou a sociedade diante do seguinte dilema : continuidade do
capitalismo, novas guerras e a mais rápida submersão no caos e na anarquia ou
abolição da exploração capitalista.
Com o término da Guerra
Mundial, a dominação da classe burguesa perdeu seu Direito de
existência. Não é mais capaz de conduzir a sociedade para fora do terrível
colapso econômico que a orgia imperialista deixou para trás.
Meios de produção
encontram-se aniquilados, em monstruosa dimensão. Milhões de forças
trabalhadoras - o tronco mais capaz e de melhor qualidade da classe
trabalhadora -, foram massacradas. Os que permaneceram vivos esperam, no meio
do caminho de regresso aos seus lares, a miséria cínica do desemprego, da
inanição, ao mesmo tempo em que enfermidades ameaçam exterminar a energia do
povo em sua própria raiz. Em decorrência do horrendo ônus das dívidas de
guerra, a bancarrota financeira é inevitável.
Para sair de todo
desse babel sangrento, desse abismo de agonias, não existe nenhum auxílio, a
não ser o socialismo. Apenas a Revolução Mundial do Proletariado
pode introduzir ordem nesse caos, proporcionar pão e trabalho para todos, por
termo à recíproca carnificina dos povos, trazer paz, liberdade e genuína
cultura à humanidade oprimida. Abaixo o sistema de trabalho assalariado !
Eis a consigna colocada na ordem do dia. No lugar do trabalho assalariado e da
dominação de classe, há de surgir o trabalho cooperativo. Os meios de trabalho
devem deixar de ser monopólio de uma classe, tornando-se bem comum de todos. Basta
de exploradores e explorados ! Regulação da produção e distribuição de
produtos, realizadas no interesse do público em geral. Abolição do modo de
produção tal qual hoje existente, da exploração e do roubo do comércio, tal
como atualmente operante que nada mais é senão engano.
No lugar dos patrões
e de seus escravos assalariados : livres companheiros de trabalho ! Trabalho
que não seja tormento para ninguém, porque é dever de todos !
Existência humanamente digna para todos que cumpram seu dever para com a
sociedade. Fome não mais por causa da imprecação do trabalho, mas sim como punição
do vadio !
Tão somente em uma
sociedade como essa serão erradicados o ódio e a vassalagem dos povos. Apenas
quando uma tal sociedade for concretizada, a terra deixará de ser profanada
pelas hecatombes. Unicamente então se poderá dizer :
Essa foi a última guerra !
Na presente hora, o
socialismo é a única âncora de salvação da humanidade. Sobre a muralha em queda
da sociedade capitalista, flamejam palavras do Manifesto Comunista tais
qual uma fatídica advertência :
Socialismo ou naufrágio na bárbarie!
II
A concretização da
ordem socialista da sociedade é a mais grandiosa tarefa que já foi conferida a
uma classe e a uma revolução, na história mundial. Essa tarefa exige uma
completa transformação do Estado e uma inteira revolução dos fundamentos
econômicos e sociais da sociedade.
Essa transformação e
essa revolução não podem ser decretadas por nenhuma autoridade, comissão ou
parlamento. Podem ser apenas assumidas e executadas pelas próprias massas
populares.
Em todas as
revoluções havidas até o presente momento, foi uma pequena minoria do povo quem
dirigiu a luta revolucionária, conferindo-lhe objetivo e direcionamento,
utilizando as massas enquanto ferramenta para conduzir à vitória seus próprios
interesses, i.e. os interesses da minoria. A revolução socialista é a primeira
que, por si mesma, pode atingir a vitória, no interesse da grande maioria e
através da grande maioria dos trabalhadores.
As massas do
proletariado estão incumbidas de não apenas inserir na revolução objetivos e
orientação, com claro conhecimento de causa : elas mesmas devem também, através
de sua própria atividade, a passo e passo, trazer o socialismo à vida.
A essência da
sociedade socialista consiste em que as grandes massas trabalhadoras deixam de
ser massas governadas, passando a vivenciarem elas mesmas, pelo contrário, toda
a vida política e econômica, guiando-a, com auto-determinação consciente e
livre.
Por isso, da
cumeeira mais elevada do Estado até à mais ínfima comunidade, devem as massas
proletárias substituir os órgãos legados pela dominação da classe burguesa – os
senados, os parlamentos, os conselhos municipais – por órgãos da sua própria
classe, os Conselhos de Trabalhadores e Soldados, ocupar todos os postos,
supervisionar todas as funções, mensurar todas as competências do Estado com
base no interesse de sua própria classe e nas tarefas socialistas. E tão
somente em interação permanente e viva, mantida entre as massas populares e
seus órgãos, i.e. os Conselhos de Trabalhadores e Soldados, poderá sua atividade
suprir plenamente o Estado com espírito socialista.
Também a revolução
econômica é apenas suscetível de ser executada enquanto processo impulsionado
pela ação das massas proletárias. Os meros Decretos sobre a Socialização, editados
pelas autoridades supremas da revolução, nada mais constituem senão palavras
vazias. Somente os trabalhadores podem, através de sua própria ação, fazer as
palavras tornarem-se realidade encarnada. Em luta tenaz contra o capital, ombro
a ombro em cada uma das fábricas, através da pressão direta das massas, por
meio das greves, mediante a criação de seus próprios órgãos de representação
regular, os trabalhadores são capazes de conquistar para si o controle da
produção e, finalmente, a direção efetiva.
De máquinas mortas
que o capitalista coloca no processo de produção, as massas proletárias devem
aprender a se transformarem em guias autônomas, livres e pensantes desse
processo. Devem conquistar o sentimento de responsabilidade de membros atuantes
do público em geral, esse último o único detentor de toda a riqueza social.
Devem desenvolver a assiduidade, sem o látego capitalista, o máximo desempenho,
sem os instigadores capitalistas, a disciplina, sem o jugo, e a ordem, sem a
dominação. O supremo idealismo no interesse do público em geral, a
auto-disciplina mais severa, o verdadeiro sentido de civismo das massas
constituem o fundamento moral da sociedade socialista, tal como a brutalidade,
o egoísmo e a corrupção são o fundamento moral da sociedade capitalista.
Todas essas virtudes
socialistas civis - conjugadas aos conhecimentos e às habilidades de direção
das empresas socialistas -, podem apenas ser conquistadas pelas massas
trabalhadoras através de sua própria atividade, através de sua própria
experiência.
Tão somente através
da luta pertinaz e incansável das massas trabalhadoras, é possível realizar a
socialização da sociedade, em toda a sua amplitude, em todos os pontos, em que
trabalho e capital, povo e dominação de classe burguesa encaram-se reciprocamente,
olhando uns no fundo dos olhos dos outros. A libertação da classe trabalhadora
deve ser obra da própria classe trabalhadora.
III
Nas revoluções
burguesas, derramamento de sangue, terror, assassinato político com emboscada
foram armas indispensáveis, empunhadas pelas classes ascendentes.
A Revolução
Proletária não carece de nenhum terror para o atingimento de seus
objetivos. Odeia e abomina assassinatos de tocaia. Prescinde desse meio de luta
porque combate não indivíduos, mas sim instituições, porque intervém na arena
não com ingênuas ilusões cuja decepção haveria de ser vingada de modo
sanguinário. Não é nenhum intento desesperado de uma minoria de modelar o mundo
com violência, em conformidade com o seu ideal, mas sim a ação de grandes
massas de milhões do povo, conclamadas a cumprir uma missão histórica e aplicar
na prática uma necessidade histórica.
Porém, a Revolução
Proletária é, ao mesmo tempo, o sino da morte para toda a vassalagem e
opressão. Por essa razão, erguem-se contra a Revolução Proletária
todos os capitalistas, nobres latifundiários, pequeno-burgueses, oficiais,
todos os aproveitadores e parasitas da exploração e dominação de classe, tais
qual um homem, em meio a uma luta de vida ou morte.
Trata-se de uma
ilusão pavorosa acreditar que os capitalistas submeter-se-iam, de boa vontade,
ao veredito socialista de um parlamento, de uma assembléia nacional,
renunciando, serenamente, à posse, ao lucro, ao privilégio da exploração. Todas
as classes dominantes lutaram por seus privilégios até o fim, com obstinada
energia. Tanto os patrícios romanos quanto os barões feudais medievais, tanto
os cavaleiros ingleses quanto os mercadores de escravos norte-americanos,
tantos os boiardos valáquios quanto os fabricantes de seda lioneses, todos eles
derramaram rios de sangue, marcharam sobre cadáveres, assassinatos e incêndios,
incitaram guerras civis e traições à pátria, a fim de defenderem seus
privilégios e seu poder.
Enquanto último
rebento da classe de exploradores, a classe capitalista-imperialista ultrapassa
a brutalidade, o cinismo descarado e a perfídia, possuídos pelas classes que a
precederam. Defenderá seu bem mais sagrado, seus lucros e seu privilégio de
exploração, com unhas e dentes e com todos os métodos da mais fria
perversidade, colocados à luz do dia em toda a história da política colonial e da
última Guerra Mundial. Céus e
infernos moverá contra o proletariado. Mobilizará o campesinato contra as
cidades, instigará camadas atrasadas de trabalhadores contra a vanguarda
socialista, incitará matanças, recorrendo a oficiais, procurará paralisar toda
e qualquer medida socialista através de milhares de meios de resistência
passiva, agitará vinte Vendéias contra a garganta da revolução,
convocará para virem ao país, como salvadores, os inimigos externos, o ferro
letal dos Clemenceau, Lloyd George e Wilson. Preferirá transformar o país
em um monte de ruínas fumegantes a abandonar voluntariamente a escravidão
assalariada.
Toda essa
resistência há de ser quebrada, a passo e passo, com punho de ferro e rude
energia. É necessário opor ao poder da contra-revolução burguesa o poder
revolucionário do proletariado, aos assaltos, às intrigas, às
maquinações da burguesia, a indobrável claridade de objetivo, a vigilância e,
sempre, a atividade decidida das massas proletárias, aos perigos ameaçadores da
contra-revolução, o armamento do povo e o desarmamento das classes dominantes,
às manobras de obstrução parlamentar da burguesia, a organização repleta de
ações da sociedade dos trabalhadores e soldados : o poder concentrado,
acumulado e elevado ao máximo, da classe trabalhadora. Apenas o fronte compacto
de todo o proletariado alemão - do sul e do norte, da cidade e do campo, dos
trabalhadores com os soldados -, o contato espiritual vivaz da Revolução
Alemã com a Revolução Internacional, a expansão da Revolução Alemã rumo à Revolução
Mundial do Proletariado, podem criar o fundamento de granito sobre o
qual o edifício do futuro há de ser erigido.
A luta pelo
socialismo é a Guerra Civil mais poderosa que a história do mundo jamais
entreviu e a Revolução Proletária há de preparar para essa Guerra
Civil o necessário aparato de armamentos, aprendendo a manuseá-lo para
a luta e para a vitória.
Uma aparelhagem como
essa das massas compactas do povo trabalhador com todo o poder político,
colocado a serviço das tarefas da revolução, é a Ditadura do Proletariado e,
por isso, a verdadeira democracia. Não é ali, onde o escravo assalariado se
senta ao lado do capitalista, em fraudulenta igualdade, e os proletários
rurais, ao lado dos nobres latifundiários, com vistas a debaterem
parlamentarmente sobre suas questões vitais : mas sim ali, onde as massas
proletárias, compostas por milhões de cabeças, tomam todo o poder do Estado com
seus punhos calosos, a fim de - tais qual o Deus Thor - destroçarem,
com seu martelo, a cabeça das classes dominantes, que se situa a democracia que
não significa nenhum engano popular.
Para possibilitar ao
proletarido o cumprimento dessa tarefa, a Liga Spartakus reivindica :
A. Enquanto
Medidas Imediatas para a Garantia da Revolução
1. Desarmamento da
polícia, de todos os oficiais e de todos os soldados não proletários.
Desarmamento de todos os membros das classes dominantes ;
2. Confiscação pelos
Conselhos
de Trabalhadores e Soldados de todas as reservas de armas e munições,
bem como de todos os empreedimentos de produção de armamentos ;
3. Armamento de toda
a população adulta proletária masculina, na forma de milícia operária.
Formação de uma Guarda Vermelha, composta por proletários, enquanto parte ativa
da milícia, visando à permanente proteção da revolução contra assaltos e
maquinações contra-revolucionários ;
4. Supressão do
poder de comando dos oficiais e dos sub-oficiais. Substituição da obediência
militar-cadavérica pela voluntária disciplina dos soldados. Eleição de todos os
superiores pelas tropas, com Direito de revogação de mandatos a todo momento.
Supressão da Justiça Militar ;
5. Afastamento de
oficiais e capituladores dos Conselhos de Soldados ;
6. Substituição de todos os órgãos e autoridades
políticos do regime anterior por representantes de confiança dos Conselhos
de Trabalhadores e Soldados ;
7. Instalação de um Tribunal
Revolucionário junto ao qual serão julgados os principais culpados pela
guerra e por seu prolongamento, tanto os Hohenzollern, quanto Ludendorff,
Hindenburg, Tirpitz, tanto os demais membros de seu bando criminoso
como todos os conspiradores da contra-revolução ;
8. Confiscação
imediata de todos os meios alimentícios, visando ao asseguramento da
alimentação do povo.
B. No Domínio
Político e Social
1. Abolição dos Estados particulares. República Socialista Alemã Unitária ;
2. Eliminação de todos os parlamentos e conselhos municipais. Absorção de
suas funções pelos Conselhos de
Trabalhadores e Soldados, bem como por suas juntas e órgãos ;
3. Eleição por fábricas de Conselhos de Trabalhadores em toda a
Alemanha pelo conjunto dos
trabalhadores adultos de ambos os sexos, quer na cidade e quer no campo.
Eleição por tropas de Conselhos de
Soldados, excluindo-se os oficiais e os capituladores. Direito de os
trabalhadores e soldados revogarem a todo momento o mandato de seus representantes
;
4. Eleição de delegados dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados
em todo o Império para o Conselho Central dos Conselhos de
Trabalhadores e Soldados, o qual deverá eleger o Conselho Executivo, enquanto órgão
supremo do Poder Executivo e Legislativo
;
5. Reunião do Conselho Central, provisoriamente,
no mínimo, a cada 3 (três) meses – com nova e reiterada eleição de delegados -,
visando ao controle regular da atividade do Conselho Executivo e à geração de um vivo contato entre as
massas dos Conselhos de Trabalhadores
e Soldados do Império
e seus órgãos supremos de governo. Direito de os Conselhos de Trabalhadores e Soldados Locais revogarem e
substituirem, a todo momento, seus representantes junto ao Conselho Central, caso esses últimos
não atuem no sentido estipulado por seus comitentes. Direito de o Conselho Executivo nomear e
destituir os Comissários do Povo, os
funcionários e as autoridades centrais do Império ;
6. Abolição de todas as diferenças estamentais, ordens e títulos. Completa
igualdade jurídica e social para ambos os sexos ;
7. Enérgica legislação social, redução da jornada de trabalho, com vistas
à gestão do desemprego, tendo-se em conta o esgotamento corporal dos
trabalhadores por causa da Guerra
Mundial. Jornada máxima de trabalho de 6 (seis) horas ;
8. Remodelação fundamental e imediata do sistema de alimentação, moradia
e educação, no sentido e espírito da Revolução
Proletária.
C. Próximas
Reivindicações Econômicas
1. Confiscação de todos os patrimônios e rendas dinásticas, em benefício
do público em geral ;
2. Anulação das dívidas do Estado e de outras dívidas públicas, bem como
de todos os créditos de guerra, salvo as subscrições que atingirem um
determinado montante, a ser fixado pelo Conselho
Central dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados ;
3. Expropriação do solo e da terra de todas as grandes e médias empresas
rurais. Formação de cooperativas agrícolas socialistas, sob direção
centralizada e unificada em todo o Império.
As pequenas empresas camponesas permanecerão na posse de seu titular, até à sua
voluntária adesão às cooperativas socialistas ;
4. Expropriação pela República
dos Conselhos de todos os bancos, minas e siderúrgicas, bem como de
todas as grandes empresas, quer industriais quer comerciais ;
5. Confiscação de todos os
patrimônios superiores à determinada soma, a ser fixada pelo Conselho Central ;
6. Absorção e controle pela República
dos Conselhos de todo o sistema de transporte público ;
7. Eleição em todas as fábricas de Conselhos
de Fábrica que, em consonância com os Conselhos de Trabalhadores, deverão ordenar as questões
internas, regular as relações trabalhistas, controlar a produção e, finalmente,
assumir a direção das fábricas ;
8. Instituição de uma Comissão
Central de Greves, operando em
conjunto com os Conselhos de Fábricas,
a qual deverá assegurar ao movimento grevístico que se inicia em todo o Império uma direção unitária, uma
orientação socialista e o mais enérgico apoio do poder político dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados.
D. Tarefas
Internacionais
Imediato estabelecimento de ligações com os Partido Irmãos do exterior, a fim de
posicionar a Revolução Socialista sobre
uma base internacional, conformando e assegurando a paz através da confraternização
internacional e da sublevação revolucionária do proletariado mundial.
IV
Eis o que quer a Liga Spartakus.
E porque ela o quer e porque é a admoestadora, a
exortadora, a consciência socialista da revolução, é odiada, perseguida e
caluniada por todos os inimigos declarados e velados da revolução e do
proletariado.
Crucifiquem-na !, vociferam os capitalistas que
estremecem por causa de suas próprias caixas-fortes.
Preguem-na na cruz !, bradam os pequenos
burgueses, os oficiais, os anti-semitas, os lacaios da imprensa burguesa que
tremem por causa de suas marmitas, concedidas pela dominação de classe
burguesa.
Flagelem-na na cruz !, repetem ainda, tais qual
um eco, as camadas de trabalhadores e soldados enganadas, ludibriadas e
usurpadas, ignorantes quanto ao fato de que, quando se enfurecem contra a Liga Spartakus, enfurecem-se contra
sua própria carne e seu próprio sangue.
No ódio e na calúnia perpetrada contra a Liga Spartakus, tudo de
contra-revolucionário, anti-popular, anti-socialista, ambigüo, fotofóbico,
obscuro, unifica-se. Através disso, confirma-se que nela bate o coração da
revolução e que a ela pertence o futuro.
A Liga
Spartakus não é nenhum Partido que quer alcançar a dominação por cima
ou através das massas de trabalhadores.
A Liga
Spartakus é apenas a parte do proletariado consciente de seu objetivo
que indica, a passo e passo, a todas amplas as massas trrabalhadoras suas
tarefas históricas, defendendo, em cada um dos estágios específicos da
revolução, o objetivo final socialista e, em todas as questões nacionais, os
interesses da Revolução Proletária
Mundial.
A Liga
Spartakus rejeita dividir o Poder
de Governo com os beleguins da burguesia, com os Scheidemanns e Eberts, posto que
entrevê em uma cooperação como essa uma traição aos fundamentos do socialismo,
um fortalecimento da contra-revolução e um entorpecimento da revolução.
A Liga
Spartakus também rejeitará atingir o poder tão somente porque os Scheidemanns e os Eberts arruinaram-se e os Independentes, em virtude de sua
colaboração com aqueles, precipitaram-se em um beco sem saída.
A Liga
Spartakus jamais assumirá o Poder
de Governo de um modo que não seja aquele intermediado pela vontade
clara e inequívoca da grande maioria das massas proletárias da Alemanha, jamais, senão por força de
sua aprovação consciente das concepções, objetivos e métodos de luta da Liga Spartakus.
A Revolução
Proletária pode apenas impor-se gradativamente, passo a passo, no
caminho de Gólgota de suas
próprias amargas experiências, através de derrotas e vitórias, rumo à total
claridade e madureza.
A vitória da Liga Spartakus não se situa no início, mas sim no fim da
revolução : é idêntica à vitória das grandes massas de milhões do proletariado
socialista.
De pé,
proletários ! À luta ! Há um mundo a ser conquistado e um mundo a ser
combatido. Nessa última luta de classes da história mundial em prol dos
supremos objetivos da humanidade, vigora o brocardo a ser dirigido contra o
inimigo: Joelho no meio do peito e
polegar afundando no olho ! [2]
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO
MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1]Cf. PROGRAMM DER KOMMUNISTISCHEN PARTEI DEUTSCHLANDS (SPARTAKUSBUND) ANGENOMMEN VOM GRÜNDUNGSPARTEITAG DER KPD.
(Programa do Partido Comunista da Alemanha (Liga Spartakus) Adotado em seu
Congresso Fundacional) in: Bericht über den Gründungsparteitag der KPD (Spartakusbund)
vom 30. Dezember 1918 bis 1. Januar 1919 (Relatório sobre o Congresso
Fundacional do Partido Comunista da Alemanha (Liga Spartakus), realizado entre
30 de Dezembro de 1918 e 1° de Janeiro de 1919), Berlim : KPD (Spartakusbund)
o.O. u. o. J., pp. 49 e s. Cumpre observar que o programa em tela foi redigido
por Rosa
Luxemburg e, à parte a subtração de uma pequena linha e da renumeração
de capítulos, coincide inteiramente com o artigo de LUXEMBURG, ROSA. Was Will der Spartakusbund? (O Que Quer a Liga
Spartakus?)(14. 12. 1918), in : Rosa Luxemburg Gesammelte Werke (Obras
Recolhidas de Rosa Luxemburg), Vol. 4. Berlim : Dietz, 1972, pp. 442 e s. Esse
último surgiu, pela primeira vez, publicado nas colunas de “Die Rote Fahne (A Bandeira
Vermelha)”, Nr. 24 de 14 de dezembro de 1918, órgão da Liga
Spartakus.
[2] No original alemão: Daumen
aufs Auge und Knie auf die Brust! Assinalo que, nas lutas travadas na Antigüidade,
almejava-se comumente lançar-se o adversário ao chão mediante golpes violentos
e, como forma de demonstrar a vitória conquistada, fazer penetrar o polegar
lentamente no interior do olho do derrotado. Daí deve proceder possivelmente o
costume de atestarmos a morte de alguém, tocando com nossos dedos os olhos do
falecido, como forma de examinarmos seu glóbulo ocular e certificarmo-nos da
efetividade de sua morte. Ademais disso, o polegar sempre representou o dedo da
força. O brocardo em destaque surge ainda em língua dos francos medievais da
seguinte forma : Ar setzt’n ‘n Dauma ufs Ag.