FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICOS DO SOCIALISMO
CIENTÍFICO
PARA A LUTA DE EMANCIPAÇÃO PROLETÁRIA,
TRAVADA EM PROL DA CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE
MUNDIAL
SEM EXPLORAÇÃO DO HOMEM PELO HOMEM, SEM
EXPLORAÇÃO DE NAÇÕES POR NAÇÕES
EM MEMÓRIA DE
FRIEDRICH ENGELS :
GRANDE LUTADOR E PROFESSOR DO PROLETARIADO MODERNO
(110 Anos da Morte de Engels)
VLADIMIR ILITCH LENIN[1]
Concepção e Organização, Compilação e
Tradução Asturig Emil von München
Publicação em Homenagem a Aníbal Cienfuegos e
ao Comandante Negro
Agosto 2005 emilvonmuenchen@web.de
Voltar ao Índice Geral http://www.scientific-socialism.de/FundamentosMRevCapa.htm
Clique aqui para a versão em
língua alemã
“Kakoi svietil’nik razuma pogas,
Que
tocha da razão deixou de arder,
Kakoie sierdtse bit’ssa perestalo !
Que
coração deixou de bater !”
Nikolai Alekseievitch Nekrassov[3]
Em 5 de
agosto de 1895 - segundo o antigo calendário 24 de julho -, faleceu, na cidade
de Londres,
Friedrich
Engels.
Depois de
seu amigo Karl Marx (falecido em 1883), Engels foi o mais notável
cientista e professor do proletariado moderno de todo o mundo civilizado.
A partir
do momento em que o destino aproximou Karl Marx e Friedrich Engels, os
dois amigos devotaram o trabalho de suas vidas a uma causa comum.
Por isso,
para que entendamos o que fez Friedrich Engels pelo proletariado,
há que ter uma idéia clara do significado dos ensinamentos e da obra de Marx para
o desenvolvimento do movimento contemporâneo da classe trabalhadora.
Marx e
Engels foram os primeiros a
demonstrar que a classe trabalhadora e suas reivindicações constituem um
produto necessário do presente sistema econômico que, juntamente com a
burguesia, cria e organiza, de maneira inevitável, o proletariado.
Demonstraram
que não são as tentativas de pessoas individuais bem intencionadas, mas sim a
luta de classes do proletariado organizado que libertará a humanidade dos males
que, presentemente, a oprimem.
Em seus
trabalhos científicos, Marx e Engels foram os primeiros a
esclarecer que o socialismo não é uma invenção de sonhadores, senão o objetivo
final e o resultado necessário do desenvolvimento das forças produtivas da
sociedade moderna.
Toda a
história registrada até os dias de hoje tem sido a história da luta de classes,
da seqüência da dominação e da vitória de certas classes sociais sobre outras.
E isso
continuará sendo assim até que os fundamentos da luta de classes e da dominação
de classe – a propriedade privada e a desordenada produção social –
desapareçam.
Os
interesses do proletariado exigem a destruição desses fundamentos e, sendo
assim, a luta de classes consciente dos trabalhadores organizados há de ser
dirigida contra esses últimos.
Toda a
luta de classes é, porém, uma luta política.
Essas
concepções de Marx e Engels foram acolhidas, na atualidade, por todo o
proletariado que se encontra lutando por sua emancipação.
Porém,
quando nos anos 40 do século XIX, esses dois amigos interviram na produção
literária socialista e nos movimentos sociais daquela época seus pontos vistas
eram inteiramente novidadeiros.
Havia,
então, muitas pessoas talentosas e sem talento, honestas e desonestas, que,
absorvidas pela luta em prol de liberdade política, contra o despotismo dos
monarcas, autoridades policiais e padres, deixavam de ver o antagonismo,
existente entre os interesses da burguesia e os do proletariado.
Tais
pessoas não admitiam a idéia de os trabalhadores atuarem como força social
independente.
Por outro
lado, existiam muitos sonhadores – alguns deles verdadeiros gênios – que
pensavam ser apenas necessário convencer os governantes e as classes
dominadoras da injustiça da ordem social contemporânea para que fosse, então,
facilmente estabelecidos a paz e e o bem geral, sobre a face da terra.
Sonhavam
com um socialismo sem lutas.
Por fim,
quase todos os socialistas daquela época e os amigos da classe trabalhadora
entreviam, geralmente, no proletariado apenas uma úlcera e observavam
aterrorizados como essa úlcera crescia, concomitantemente com o crescimento da
indústria.
Por essa
razão, todos eles conjecturavam dos meios para deter o desenvolvimento da
indústria e do proletariado, para fazer parar “a roda da história”.
Opondo-se
a esse temor generalizado, nutrido ante o desenvolvimento do proletariado, Marx
e Engels depositavam, pelo contrário, todas as suas esperanças no
contínuo desenvolvimento deste.
Quanto
mais proletários houver, tanto maior a sua força enquanto classe
revolucionária, tanto mais próximo e possível há de se tornar o socialismo.
Os
serviços prestados por Marx e Engels à classe trabalhadora
podem ser expressados em poucas palavras da seguinte forma :
Ambos
ensinaram a classe trabalhadora a conhecer-se a si mesma, tornando-se
consciente de si mesma, e, assim procedendo, substituíram os sonhos pela
ciência.
É por
esse motivo que o nome e a vida de Engels devem ser conhecidos por
todos os trabalhadores.
Eis por
que, em nossa compilação de ensaios, cujo objetivo é o de despertar a
consciência de classe dos trabalhadores da Rússia – objetivo esse também o de
todas as nossas publicações -, temos de
fornecer um bosquejo da vida e da obra de Friedrich Engels, um
dos dois grandes professores do proletariado moderno.
Engels nasceu em 1820, na cidade de Barmen, Província
do Reno do Reino da Prússia.
Seu pai
foi um fabricante.
Em 1838,
sem ter completado seus estudos ginasiais, Engels foi forçado, por
circunstâncias devidas à sua vida familiar, a começar a trabalhar como empregado,
em uma casa comercial, na cidade de Bremen.
As
atividades comerciais não impediram Engels de dar continuidade à sua
educação científica e política.
Ainda
quando se achava no ginásio, havia passado a odiar a autocracia e a tirania dos
burocratas.
O estudo
da filosofia levaram-no a seguir adiante.
Naquela
época, o ensino da doutrina de Hegel dominava a filosofia alemã e Engels
tornou-se um de seus discípulos.
Embora o
próprio Hegel tivesse sido um venerador do Estado Prussiano autocrático,
a cujo serviço se colocara na qualidade de Professor da Universidade de Berlim,
a doutrina
de Hegel era revolucionária.
A fé de Hegel
na razão humana e nos Direitos do homem, bem como a tese fundamental da
filosofia hegeliana de que o universo encontra-se submetido a um permanente
processo de mudanças e desenvolvimento, levaram alguns dos discípulos do filósofo
de Berlim – aqueles que se haviam recusado a aceitar a situação então
existente – à idéia de que a luta contra essa mesma situação, a luta contra as
injustiças existentes e o mal dominante, achava-se, igualmente, enraizada na lei
universal do desenvolvimento eterno.
Se todas
as coisas se desenvolvem, se determinadas instituições são substituídas por
outras, por quê deveriam subsistir por todo o sempre a autocracia do
Reino da Prússia ou o Czarismo da Rússia, o enriquecimento
de uma minoria insignificante às expensas da maioria esmagadora ou ainda a
dominação da burguesia sobre o povo ?
A
filosofia de Hegel falava do desenvolvimento do espírito e das idéias : era
uma filosofia
idealista.
A partir
do desenvolvimento do espírito, conduzia ao desenvolvimento da natureza, do ser
humano e das relações humanas e sociais.
Preservando
a idéia de Hegel sobre o eterno processo de desenvolvimento, Marx
e Engels rechaçaram, porém, sua concepção idealista preconcebida[4].
Dedicando-se
ao estudo da vida, viram que não é o desenvolvimento do espírito que explica o
desenvolvimento da natureza, mas sim, inversamente, que cumpre explicar o
espírito a partir da natureza, da matéria ...
Diferentemente
de
Hegel e outros hegelianos, Marx e Engels eram materialistas.
Contemplando
o mundo e a humanidade de modo materialista, aperceberam-se do fato de que, tal
como as causas materiais subjazem a todos os fenômenos naturais, também o
desenvolvimento da sociedade humana é condicionado pelo desenvolvimento das
forças materiais, das forças produtivas.
Do
desenvolvimento das forças produtivas dependem as relações que os homens
mantêm, uns com os outros, na produção da coisas, imprescindíveis à satisfação
das necessidades humanas.
Nessas
relações, reside a elucidação de todos os fenômenos, relacionados com a vida
social, as aspirações humanas, as idéias e as leis.
O
desenvolvimento das forças produtivas cria relações sociais que se baseiam na
propriedade privada.
Porém,
vemos, agora, que esse próprio desenvolvimento das forças produtivas priva a
maioria dos seres humanos de sua propriedade, concentrando-a nas mãos de uma
ínfima minoria.
Ele
suprime a propriedade, base da moderna ordem social, tendendo, por si mesmo,
para o próprio objetivo que os socialistas fixaram para si mesmos.
Tudo que
os socialistas têm a fazer é entender qual é a força social que, devido à sua
posição na sociedade moderna, encontra-se interessada em realizar o socialismo,
imprimindo, então, a essa força a consciência de seus interesses e de sua
tarefa histórica.
A força
em questão é o proletariado.
Engels veio a conhecer o proletariado na Inglaterra, em Manchester,
no centro da indústria inglesa, onde se alojou em 1842, quando começou a
trabalhar em uma firma comercial, da qual seu pai era um dos acionistas.
Aqui, Engels
não se cingiu às atividades do escritório da firma, mas sim peregrinou
pelos bairros miseráveis em que os trabalhadores achavam-se amontoados,
testemunhando, com seus próprios olhos, a pobreza e indigência dos que
trabalhavam.
Além
disso, não se restringiu a formular suas observações pessoais.
Leu tudo
aquilo que havia sido revelado antes dele acerca da condição da classe
trabalhadora britânica e estudou, detidamente, todos os documentos oficiais aos
quais podia ter acesso.
O produto
desses estudos e observações foi o livro de sua autoria, surgido em 1845, sob o
seguinte título :
« A
Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra. »[5]
Já
mencionamos acima qual foi grande mérito de Engels, por ter redigido
o livro em destaque.
Mesmo
antes de Engels, muitas pessoas haviam descrito os sofrimentos do
proletariado e realçado a necessidade de prestar-lhe ajuda.
Engels foi, porém, o primeiro a dizer que o proletariado
não
é apenas uma classe que sofre, senão também que, na realidade, é a
vergonhosa condição econômica do proletariado que o conduz, irresistivelmente,
a marchar para diante, forçando-o a lutar em prol de sua emancipação
definitiva.
Assim, é
o proletariado em luta que há de ajudar-se a si mesmo.
O
movimento político da classe trabalhadora há de inevitavelmente conduzir os
trabalhadores à compreensão de que sua única salvação encontra-se no
socialismo.
Por outro
lado, o socialismo tornar-se-á uma força apenas quando converter-se em objetivo
da
luta política da classe trabalhadora.
Eis as
principais idéias do livro de Engels sobre a situação da classe
trabalhadora na Inglaterra, idéias essas que, agora, surgem acolhidas por todos
os proletários que raciocinam e combatem, mas que, outrora, revelavam-se
inteiramente novas.
Tais
idéias foram apresentadas em um livro, redigido em estilo cativante e permeado
de imagens autênticas e comoventes da miséria do proletariado da Inglaterra.
O livro
em apreço representou uma terrível peça de acusação do capitalismo e da
burguesia, produzindo profunda impressão.
O livro
de Engels
passou a ser citado por todos os lados, como sendo a obra que melhor
fornecia um quadro da situação do proletariado moderno.
E, com
efeito, nem antes nem depois de 1845 produziu-se um quadro literário tão
marcante e fidedigno sobre a miséria da classe trabalhadora.
Apenas na
Inglaterra,
Engels tornou-se socialista.
Em
Manchester, estabeleceu contatos com pessoas que atuavam no movimento
operário britânico, naquele momento histórico, e começou a escrever para
publicações socialistas, editadas na Inglaterra.
Em 1844,
quando voltava à Alemanha, conheceu Marx, em Paris, com quem já havia
iniciado a troca de correspondências.
Em Paris,
sob a influência da vida e dos socialistas franceses, também Marx havia-se
tornado socialista.
Nessa
cidade, os dois amigos escreveram juntos um livro, dotado do seguinte título :
« A
Sagrada Família ou a Crítica da Crítica Crítica. »[6]
O livro
em destaque, que surgiu um ano antes do aparecimento de « A Situação da Classe
Trabalhadora na Inglaterra » e foi redigido, na sua maior parte, por Marx, contém
os fundamentos do socialismo materialista revolucionário, cujas principais idéias
apresentamos acima.
« A
Sagrada Família » é uma
referência jocosa feita aos Irmãos Bauers e seus seguidores
filósofos.
Esses
senhores pregavam uma doutrina crítica, situada acima de toda a realidade,
acima dos partidos e da política, que rejeitava toda a atividade prática,
vislumbrando apenas “criticamente” o mundo circunjacente e os eventos que
nele se processavam.
Os Senhores
Bauers
deitavam os seus olhos desdenhosamente sobre o proletariado, considerando-o
como massa despojada de espírito crítico.
Marx e
Engels opuseram-se,
vigorosamente, a essa tendência absurda e nociva.
Em nome
da pessoa humana real – em nome do trabalhador, pisoteado pelas classes
dominantes e o Estado – exigiram não a contemplação, senão a luta, a ser travada
em prol de uma melhor ordem social.
Evidentemente,
consideraram o proletariado como força capaz de impulsionar essa luta, estando
por ela interessado.
Mesmo
antes do surgimento de « A Sagrada Família », Engels publicara
nos «
Anais Franco-Alemães » de Marx e Ruge seu «
Ensaio Crítico sobre Economia Política », em que examinou os principais
fenômenos da ordem econômica contemporânea, desde um ponto de vista socialista,
focalizando-os como conseqüências necessárias da dominação da propriedade privada.[7]
O contato
que Marx
estabeleceu com Engels representou, indubitavelmente, uma importante
contribuição para a sua decisão de ocupar-se com o estudo da econômica
política, ciência essa na qual sua obra veio a produzir verdadeira revolução.
De 1845 a
1847, Engels viveu em Bruxelas e Paris, combinando
trabalho científico e atividades práticas, empreendidas juntos a trabalhadores
alemães de ambas essas cidades.
Aqui, Marx
e Engels estabeleceram contato com o grupo clandestino alemão “Liga
dos Comunistas”, que os encarregou da exposição dos principais
princípios do socialismo que haviam elaborado.[8]
Referida
exposição surgiu apresentada no famoso « Manifesto do Partido Comunista » de Marx e
Engels, publicado em 1848.
Surgindo
na forma de uma pequenina brochura, vale por livros inteiros : até os dias de
hoje, seu espírito inspira e dirige todo o proletariado organizado e combatente
do mundo civilizado.
A Revolução
de 1848 que irrompeu, primeiramente, na França e, então,
expandiu-se por outros países da Europa Ocidental, reconduziu Marx
e Engels a seu país de origem.
Na Prússia
Renana, assumiram o jornal democrático “Neue Rheinische Zeitung (Nova
Gazeta Renana)”, publicado na cidade de Colônia.[9]
Os dois
amigos constituíam o coração e a alma de todas as aspirações
democrático-revolucionárias no Reino da Prússia.
Combateram
até às últimas conseqüências em defesa da liberdade e dos interresses do povo
contra as forças da reação.
Estas,
como sabemos, acabaram triunfando.
O “Neue
Rheinische Zeitung (Nova Gazeta Renana)” foi proibido.
Marx, que durante seu exílio havia perdido sua cidadania
prussiana, foi deportado.
Engels participou da Insurreição Armada Popular,
combatendo pela liberdade em três batalhas.
Depois da
derrota dos insurgentes revolucionários, fugiu, através da Suíça, para Londres.
Marx também se instalou em Londres.
Engels logo voltou a trabalhar como empregado de escritório e, a
seguir, tornou-se acionista da firma comercial de Manchester, na qual
atuara, ao longo dos anos 40.
Até 1870,
viveu em Manchester, enquanto Marx vivia em Londres.
Porém,
esse fato não impediu que ambos mantivessem um intercâmbio de idéias
extremamente vivo : correspondiam-se praticamente todos os dias.
Nessa sua
correspondência, os dois amigos intercambiavam pontos de vista e descobertas,
continuando a colaborar na elaboração do socialismo científico.
Em 1870, Engels
mudou-se para Londres e a vida intelectual que
ambos impulsionavam em conjunto, marcada pelo caráter mais laborioso, continuou
até 1883, quando Marx faleceu.
Da parte
de Marx,
o fruto desse processo foi « O Capital », o maior trabalho de Economia
Política de nossa era e, da parte de Engels, um número de
trabalhos, quer de grande, quer de pequena dimensão.
Marx escreveu sobre a análise dos complexos fenômenos da
economia capitalista.
Engels, por sua vez, em trabalhos redigidos com simplicidade e
freqüentemente em tom de polêmica, tratou de problemas científicos de ordem
mais geral e de diversos fenômenos do passado e do presente, consoante a lógica
da concepção
materialista da história e a teoria econômica de Marx.
Entre os
trabalhos de Engels, insta mencionar os seguintes :
·
o
trabalho polêmico dirigido contra Dühring, examinando problemas
nimiamente importantes, no domínio da filosofia, ciências naturais e sociologia
[10];
·
« A
Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado », traduzido em língua russa, publicado em São
Petersburgo, 3a. edição de 1895 [11];
·
« Ludwig
Feuerbach », tradução russa e
notas de G. Plekhanov, Geneva, 1892 [12];
·
um artigo
sobre a Política Externa do Governo Russo, traduzido em russo, no “Sotsial-Demokrat
(O Social-Democrata)” de Geneva, Nrs. 1 e 2 [13];
·
esplêndidos
artigos tratando da Questão da Habitação [14];
·
e,
finalmente, dois pequenos, porém valiosos, artigos sobre o desenvolvimento econômico da
Rússia, « Friedrich Engels sobre a Rússia », traduzido em língua russa
por Zassulitch,
Geneva, 1894.[15]
Marx faleceu antes que pudesse elaborar os retoques finais de
seu vasto trabalho sobre o capital.
Contudo,
o esboço do material já se encontrava finalizado e, após a morte de seu amigo, Engels
empreendeu a pesada tarefa de preparar e publicar o Livro II e o
Livro III de « O Capital ».
Publicou
o Livro
II, em 1885, e o Livro III, em 1894 (sua morte
impediu-o de preparar a publicação do Livro IV).[16]
A
publicação desses dois livros exigiram-lhe a prestação de uma colossal
quantidade de trabalho.
Adler, social-democrata austríaco, observou, corretamente, que,
ao publicar o Livro II e Livro III de « o Capital », Engels erigiu um
majestoso monumento ao gênio que fora seu amigo, um monumento no qual, sem
expressamente pretendê-lo, insculpiu indelevelmente o seu próprio nome.
Com
efeito, esses dois livros de « O Capital » constituem o trabalho
de dois homens : Marx e Engels.
Lendas da
Anrtigüidade
contêm vários exemplos comoventes de amizade.
O
proletariado europeu pode afirmar que sua ciência foi criada por dois sábios e
lutadores, cujo relacionamento de um para com o outro sobrepassa as mais
comoventes histórias da Antigüidade sobre a amizade entre os
homens.
Engels sempre – e, geralmente, de modo inteiramente correto –
colocava a si mesmo em uma posição posterior a de Marx.
Certa vez,
escreveu a um velho amigo :
“No tempo
em que Marx viveu, eu tocava o segundo violino.”[17]
Seu
apreço por Marx, enquanto este viveu, e sua reverência à memória de Marx
eram ilimitadas.
Esse
lutador pertinaz e pensador austero possuía uma alma profundamente amável.
No
exílio, depois do movimento de 1848-1849, Marx e Engels não ficaram enclausurados
na pesquisa científica.
Em 1864, Marx fundou
a Associação
Internacional dos Trabalhadores e dirigiu essa organização por toda uma
década.[18]
Também Engels
participou ativamente nas atividades da organização em foco.
O
trabalho da Associação Internacional dos Trabalhadores que, consoante a
idéia de Marx, unificou proletários de todos os países, foi de
gigantesco significado para o desenvolvimento do movimento da classe
trabalhadora.
Porém,
mesmo com o encerramento da Associação Internacional dos Trabalhadores,
ocorrido no curso dos anos 70, o papel de unificação, desempenhado por Marx
e Engels, não deixou de existir.
Pelo
contrário : vale dizer que sua importância enquanto dirigentes espirituais do
movimento da classe trabalhadora cresceu continuadamente, porquanto o próprio
movimento floresceu ininterruptamente.
Depois da
morte de Marx, Engels prosseguiu sozinho como conselheiro e dirigente
dos socialistas europeus.
Seus
conselhos e diretivas eram procurados tanto pelos socialistas alemães, cuja
força amplificou-se rapida e solidamente – a despeito das perseguições
governamentais -, quanto pelos representantes dos países atrasados, tais quais
os espanhóis, romenos e russos, os quais foram obrigados a refletir e sopesar
acerca de seus primeiros passos.
Todos
eles aproveitavam o rico cabedal de conhecimentos e experiências do velho Engels.
Marx e
Engels conheciam ambos a língua
russa e liam livros em russo, ao mesmo tempo em que possuíam vivaz interesse
por esse país.
Acompanhavam
o movimento revolucionário russo com simpatia e mantinham contato com
revolucionários russos.
Ambos se
tornaram socialistas, depois de haverem sido democratas, de modo que o
sentimento democrático de ódio ao despotismo político era,
neles dois, extraordinariamente intenso.
O
imediato sentimento político, associado à profunda compreensão teórica acerca
da conexão, existente entre o despotismo político e a opressão econômica, bem
como sua rica experiência de vida, tornaram Marx e Engels incomumente
sensíveis, na esfera da política.
É por
isso que a luta heróica, travada por um punhado de revolucionários russos
contra o governo czarista todo-poderoso, encontrou a mais viva ressonância nos
corações desses provados revolucionários.
D’outra
parte, a tendência de dar as costas – mercê das ilusórias vantagens econômicas
- à tarefa mais importante e imediata dos socialistas russos, nomeadamente a conquista
da liberdade política, surgia naturalmente suspeita aos seus olhos e
foi, até mesmo, por eles considerada como uma traição direta da grande causa da
revolução social.
“A
emancipação dos trabalhadores deve ser obra da própria classe trabalhadora”, prelecionaram constantemente Marx e Engels.
Porém, a
fim de lutar por sua emancipação econômica, o proletariado tem de conquistar
para si próprio certos direitos políticos.
Ademais, Marx
e Engels entenderam, claramente, que uma Revolução Política na
Rússia
haveria de ser também de tremenda importância para o movimento da classe
trabalhadora da Europa Ocidental.
A Rússia
autocrática sempre foi um bastião da reação européia, em geral.
A posição
internacional extraordinariamente favorável, desfrutada pela Rússia
por decorrência da Guerra de 1870 – país esse que, por muito tempo, semeou
discórdia entre a Alemanha e a França – nada fez senão incrementar
evidentemente a importância da Rússia autocrática, enquanto força
reacionária.
Apenas
uma Rússia
livre, uma Rússia que não careça de oprimir poloneses, finlandeses,
alemães, armênios e outras pequenas nações nem de atiçar, constantemente, a França
e a Alemanha
a lutarem uma contra a outra, permitiria à Europa moderna, redimida dos fardos
da guerra, respirar livremente, enfraquecendo todos os elementos reacionários
da Europa, fortalecendo a classe trabalhadora
européia.
Eis por
que Engels
aspirou, ardentemente, à introdução da liberdade política na Rússia, pois
isso também favoreceria o movimento da classe trabalhadora no
ocidente.
Com a
morte de Engels, os revolucionários russos perderam seu melhor amigo.
Honremos,
pois, a memória de Friedrich
Engels, grande lutador e professor do proletariado !
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE
J. M. SVERDLOV”
PARA
A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO CIENTÍFICO-SOCIALISTA
DAS
MASSAS OPRIMIDAS E SEUS ALIADOS POLÍTICOS
MOSCOU
- SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. LENIN, VLADIMIR
ILITCH ULIANOV. Friedrich Engels (Outono de 1895), in : V. I. Lenin. Polnoe
Sobranie Sotchinenii (Obras Completas), Moscou : GIPL, 1961, Vol. 2, pp. 3 e s.
Destaco que o presente ensaio necrológico de Lenin foi, pela primeira
vez, publicado em “Rabotnik (O Trabalhador)”, Nr. 1/2, em março de 1896. “Rabotnik”
foi uma produção teórica não periódica, surgida, no exterior da Rússia,
entre 1896 e 1899, em forma de coletânea de textos, organizada pela “Soiuz
Russkikh Sotsial-Demokratov (Liga dos Social-Democratas Russos), sob a redação
do grupo “Osvobojdenie Truda(Emancipação do Trabalho)”, dirigido por G. V.
Plekhanov. A iniciativa de
publicação do “Rabotnik” foi, porém, de Lenin. À época de sua chegada ao
exterior, em abril (maio) de 1895, acertou com G. V. Plekhanov e P. B. Axelrod, na
Suíça,
as condições de edição e redação da coletânea em tela pelo grupo “Osvobojdenie
Truda(Emancipação do Trabalho)”. Retornando, a seguir, à Rússia,
impulsionou expressivo trabalho, visando à organização do fornecimento de
materiais para as edições de “Rabotnik”, redigindo artigos e
cartas. Até sua prisão subseqüente, ocorrida em dezembro de 1895, Lenin
preparou e elaborou o artigo necrológico em foco, bem como inúmeras cartas,
parte das quais foi publicada nos Nr. 1/2 e 5/6 de “Rabotnik”. Dessa época de colaboração política
entre Lenin e Plekhanov, surgiram, ao todo, seis números de “Rabotnik”,
distribuídos em três cadernos, bem como 10 números de “Listka Rabotnika (Folha do
Trabalhador)”.
[2] Cf. ENGELS,
FRIEDRICH. Brief an Johann Philipp Becker (Carta a Johann Philipp
Becker)(15.10.1884), in: Marx und Engels’ Werke, Vol. 18, Berlim : Dietz
Verlag, Vol. 36, pp. 218 e ss.
[3] Os versos que Lenin escolheu para comporem a
epígrafe de seu ensaio, dedicado a Friedrich Engels, foram extraídos da
poesia de N. A. Nekrassov, redigida „Em Memória de Dobroliubov“. Vide NEKRASSOV, NIKOLAI ALEXEIEVITCH. Pamiati
Dobroliubova (Em Recordação de
Dobroliubov), in: Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras Completas), Vol. 2,
Moscou, 1948, p. 200.
[4] Nessa passagem de seu
texto, Lenin formula a seguinte nota de pé de página : “Marx
e Engels destacaram, por diversas
vezes, que muito deviam em seu desenvolvimento intelectual aos grandes
filósofos alemães e, em particular, a Hegel. Sem a filosofia alemã, dizia Engels, não existiria o socialismo científico. Acerca do tema vertente,
vide ENGELS, FRIEDRICH. Ergänzung
der Vorbemerkung von 1870 zu “Der Deutsche Bauernkrieg”(Completação da
Observações Preliminares de 1870 sobre a “Guerra Camponesa Alemã”)(1875), in :
Marx und Engels’ Werke, Vol. 18, Berlim : Dietz Verlag, p. 516.
[5] Vide IDEM. Die Lage der arbeitenden Klasse
in England. Nach eigner Anschauung und authentischen Quellen (A Situação da
Classe Trabalhadora na Inglaterra. Segundo Auto-Contemplação e Fontes
Autênticas)(Novembro 1844 – Março 1845), in : ibidem, Vol. 2, pp. 225 e ss.
Vide tb. IDEM. Die Lage der
arbeitenden Klasse in England („Rheinische Zeitung“ Nr. 359 vom 25.12.1842)(A
Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra « Jornal Renano », Nr. 359 de
25.12.1842), in : ibidem, Vol. 1, pp. 464 e 465.
[6] Vide IDEM. Die heilige Familie oder Kritik
der kritischen Kritik. Gegen Bruno
Bauer und Konsorten (A Sagrada Família ou a Crítica da Crítica Crítica. Contra
Bruno Bauer e Consortes)(September – November 1844), in : ibidem, Vol. 2, pp. 3
e ss.
[7] Vide IDEM. Umrisse zu einer Kritik der
Nationalökonomie(„Deutsch-Französische Jahrbücher“, Januar 1844)(Esboços para
uma Crítica da Economia Nacional « Anais Franco-Alemães, Janeiro de 1844), in:
ibidem, Vol. 1, pp. 499 e ss. A revista „Anais Franco-Alemães“ foi fundada
conjuntamente por Karl Marx e Arnold Ruge, na cidade de Paris.
Editou-se apenas um número (duplo), em fevereiro de 1844, em língua alemã.
Nesse número, surgiram publicados os ensaios de Marx, intitulados “Sobre
a Questão Judia” e “Para a Crítica da Filosofia do Direito de
Hegel”, bem como os ensaios de Engels, “Esboços para uma Crítica da
Economia Nacional” e “A Situação da Inglaterra. Tomas Carlyle «
Passado e Presente »”. Os trabalhos de Marx e Engels realizados
no quadro dos “Anais Franco-Alemães” são expressão da definitiva transição de
Marx
e Engels para o campo do materialismo histórico e do comunismo
revolucionário. O motivo cardeal da repentina interrupção da edição da revista
em realce foi a ruptura principista de Karl Marx com os posicionamentos
limitadamente radical-burgueses de Arnold Ruge.
[8] A Liga dos Comunistas foi a
primeira organização marxista-revolucionária do proletariado. Sua fundação teve
lugar em junho de 1847, na cidade de Londres, no quadro de uma Conferência
da Liga dos Justos que, ocorrendo clandestinamente, aprovou, sob
proposta de Marx e Engels, a conversão da liga precedente em Liga
dos Comunistas. A antiga palavra-de-ordem da Liga dos Justos, « Todos os Seres
Humanos são Irmãos », foi, então, substituída pela consigna
marxista-engelsiana internacionalista « Proletários de Todo o Mundo, Uni-vos!” O
objetivo da Liga dos Comunistas
passou a ser a derrubada da burguesia, a aniquilação da velha sociedade
burguesa, estribada no antagonismo de classes, bem como a instituição de uma
nova sociedade, sem classes sociais e sem propriedade privada. Os dirigentes da
Liga
dos Comunistas foram Marx e Engels que, uma vez encarregados
pelo II
Congresso da Liga dos Comunistas, ocorrido em novembro e dezembro de
1847, redigiram o “Manifesto do Partido Comunista”, publicado, a seguir, em
fevereiro de 1848. A Liga dos Comunistas beneficiou-se do
imenso trabalho revolucionário, prestado por Marx e Engels, no sentido
de promover a fusão ideológica e organizativa dos trabalhadores socialistas de
todo o mundo. Desempenhou importante papel histórico como escola de luta dos
proletários revolucionários, embrião dos futuros partidos proletários,
organismo precursor da Associação Internacional dos Trabalhadores
(I Internacional). A Liga
dos Comunistas continuou existindo até novembro de 1852. Acerca de sua
história, vide mais detalhadamente o artigo de ENGELS, FRIEDRICH. Zur Geschichte des Bundes der Kommunisten (Sobre
a História da Liga dos Comunistas)(1885), in: ibidem, Vol. 21, pp. 206 e ss.
[9] A ”Nova Gazeta Renana” foi
editada de 1° de junho de 1848 a 19 de maio de 1849, na cidade de Colônia,
sob a direção de Karl Marx e Friedrich Engels. Seu redator-chefe foi Karl
Marx. Demonstrando sua influência por toda a Alemanha, a gazeta em tela
desempenhou o importante papel de educador das massas revolucionárias alemãs,
apoiando-as resolutamente em sua luta contra a reação feudal-monárquica. A
posição decidida e inconciliável da ”Nova Gazeta Renana”, seu
internacionalismo combativo, atraiu para si, já nos primeiros meses de sua
existência, todo o ódio da imprensa seja dos feudal-monárquicos seja dos
liberal-burgueses, bem como a perseguição das autoridades do Estado Alemão. A
extradição de Karl Marx, decretada pelo Governo Prussiano, e a furiosa
repressão desencadeada contra os demais redatores dessa gazeta serviram de
motivos para a interrupção de sua edição. Segundo o parecer de Engels
: “Nem antes nem depois, nunca
nenhum jornal alemão possuiu o poder e a influência da “Gazeta Renana”, sabendo eletrizar as massas proletárias tal qual
ela o fez.” Vide IDEM. Marx und
die „Neue Rheinische Zeitung“ 1848-1849 (Marx e a „Nova Gazeta Renana“ em
1848-1849)(Fevereiro – Março de 1884), in : ibidem, Vol. 21, pp. 16 e ss. Em
seu artigo intitulado „Karl Marx“, Lenin qualificou o
jornal em destaque com as seguintes palavras: „lutchim, neprevzoidjennym organom revoliutsionnovo proletariata (órgão
do proletariado revolucionário da melhor qualidade e insuperável). Vide LENIN, VLADIMIR ILITCH ULIANON. Karl Marx. Kratkii Biografitcheskii
Otcherk s Izlojeniem Marksizma (Karl Marx. Breve Quadro Biográfico com
Exposição do Marxismo) (Julho – Novembro de 1914), in: ibidem, Vol. 26, pp. 43
e s.
[10] Nesse passo de sua
exposição, Lenin apôs em seu texto a seguinte nota de pé de página: „Trata-se de um livro extraordinariamente
instrutivo e rico de conteúdo. Dele, traduziu-se para a lingua russa apenas uma
pequena parte que contém um esboço histórico do desenvolvimento do socialismo.”
Acerca do tema, vide ENGELS, FRIEDRICH. Herrn Eugen Dühring’s
Umwälzung der Wissenschaft (A Subversão da Ciência do Sr. Eugen Dühring)
(Setembro de 1876 – Junho de 1878), in: ibidem, Vol. 20, pp. 1 e ss.; IDEM Die Entwicklung des Sozialismus
von der Utopie zur Wissenschaft (O Desenvolvimento do Socialismo da Utopia à
Ciência)(1880), in: ibidem, Vol. 19, pp. 177 e ss.
[11] Vide IDEM. Der Ursprung der Familie, des
Privateigentums und des Staats. Im Anschluss an Lewis H. Morgan Forschungen (A
Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Em Conexão com as
Pesquisas de Lewis H. Morgan)
[12] Vide IDEM. Ludwig Feuerbach und der Ausgang
der klassischen deutschen Philosophie (Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia
Clássica Alemã)
[13] Vide IDEM. Die auswärtige Politik des
russischen Zarismus (Em Língua Russa: Vneschniaia Politika Russkovo Tsarstva)
(A Política Exterior do Czarismo Russo)(Dezember 1889 – Februar 1890), in :
ibidem, Vol. 22, pp. 11 e ss. O „Sotsial-Demokrat (Social-Democrata) foi
uma produção político-literária panorâmica, editada, no exterior da Rússia,
pelo Grupo
„Osvoboschdenje Truda (Emancipação do Trabalho)“, entre 1890 e 1892,
sob a direção de G. V. Plekhanov, P. B. Axelrod e V. I. Zassulitch. No total,
publicaram-se quatro volumes. O „Sotsial-Demokrat
(Social-Democrata) desempenhou importante papel na difusão das idéias
do marxismo na Rússia de então.
[14] Vide IDEM. Zur Wohnungsfrage (Acerca da
Questão Habitacional)(Junho de 1872 – Fevereiro de 1873), in: ibidem, Vol. 18,
pp. 209 e ss.
[15] Vide IDEM. Soziales aus Russland (Questões
Sociais da Rússia)(1894), in : Karl Marx und Friedrich Engels. Ausgewählte
Schriften in zwei Bände (Escritos Escolhidos em Dois Volumes), Vol. 2, Berlim,
1961, pp. 41 e ss.; IDEM. Nachwort
zu “Soziales aus Russland” (Posfácio a “Questões Sociais da Rússia)(1894), in:
Marx und Engels’ Werke, Vol. 22, Berlim : Dietz Verlag, pp. 421 e ss.; tb. IDEM. Friedrich Engels o Rossij
(Friedrich Engels sobre a Rússia), Geneva, 1894, pp. 3 e ss.
[16] Em conformidade com
indicação, expressamente formulada por Engels, Lenin designou o quarto
livro de « O Capital » por “Teorias da Mais-Valia”, teorias
essas redigidas por Karl Marx, em 1862 e 1863. Com efeito, no prefácio ao segundo
livro de « O Capital », Engels assinalou o seguinte : “Reservo-me o direito de publicar a parte
crítica desse manuscrito sob a forma de Livro IV de « O Capital », após o remoção de diversas passagens já
exauridas no Livro II e no Livro III.” Vide IDEM. Vorwort zur ersten Auflage des „Kapitals“, Kritik der
politischen Ökonomie (Prefácio à Primeira Edição de « O Capital », Crítica da
Economia Política)(1885), in: Obras de Marx und Engels, Vol. 24, Berlim : Dietz
Verlag, pp. 7 e ss. A morte de Engels impediu-o, porém, de publicar
o Livro
IV de « O Capital ». O livro “Teorias
da Mais-Valia” surgiu, então, a seguir, publicado, sob redação e
organização de Kautsky, em língua alemã, entre 1905 e 1910, padecendo, porém, de
várias trangressões de regras de publicação científica e comportando distorções
na apresentação de uma série de posições sustentadas por Marx. Uma segunda e mais
exigente edição de “Teorias da Mais-Valia” surgiu, na segunda metade dos anos 50
do século XX, na URSS. Nesse sentido, vide MARX,
KARL. Teorii Pribavotchnoi Stoimosti. IV Tom “Kapitala” (Teorias da
Mais-Valia. Livro IV de o «Capital»), Parte 1 (1955), Parte 2 (1957), Moscou :
Gosud. Izd-vo, pp. 3 e s,
[17] Vide IDEM. Brief an Johann Philipp Becker
(Carta a Johann Philipp Becker)(15.10.1884), in: ibidem, Vol. 36, pp. 218 e ss.
A passagem a que Lenin se refere é a seguinte: “Meu azar é
o de que, desde o momento em que perdemos Marx,
cumpre-me ter de representá-lo. Ao longo de minha vida, fiz aquilo para que fui
talhado, i.e. tocar o segundo violino, e creio ter realizado meu papel de modo
inteiramente tolerável. Tive sorte por haver tido um primeiro violino tão
famoso como Marx. Porém, se agora
devo representar, em questões de teoria, a posição de Marx, isso não poderá transcorrer sem que incida em alguns
equívocos e ninguém percebe isso mais do que eu mesmo. Apenas quando os tempos
ficarem algo mais movimentados, tornar-se-á bem sensível para todos nós então o
que é que foi que perdemos com Marx.
Nenhum de nós possui aquela sua visão de conjunto, consoante a qual haveria de
tão rapidamente agir, em determinado momento, adotando sempre a decisão correta
e indo imediatamente ao ponto decisivo. Em tempos de calmaria, ocorreu,
possivelmente, de os eventos terem-me dado razão em relação a Marx, porém, nos momentos
revolucionários, seu julgamento era praticamente infalível.”
[18] A Associação Internacional dos
Trabalhadores (I Internacional) foi a primeira organização
internacional do proletariado mundial. Fundada em Londres, no outono de 1864, por direta iniciativa de Karl
Marx, a Associação em tela dirigiu, por vários anos, a luta econômica e
política dos trabalhadores de diversos países do mundo, fortalecendo a
solidariedade proletária internacional e constituindo-se, sob a direção
ideológica de Marx e Engels, em instrumento de combate irredutível contra as
correntes anarquistas proudhinistas-bakuninistas, sindicais trade-unionistas
e social-reformistas
lassalleanas. A Associação em referência deixou, porém,
praticamente de existir em 1872, logo após o encerramento da Conferência
de Haia, vindo, então, a ser formalmente dissolvida em 1876. A Associação
Internacional dos Trabalhadores (I Internacional) lançou as bases para
que as vindouras organizações internacionais dos trabalhadores preparassem sua
ofensiva revolucionária, dirigida pelo proletariado hegemônico, contra a
exploração sócio-econômica e a dominação político-ideológica do capital e do
latifúndio.