PEQUENOS ENSAIOS POLÊMICOS SOBRE GREVES E SINDICATOS

 

Do Movimento Sindical

à Conquista do Poder na Rússia

 

ALEXANDER G. SCHLIAPNIKOV

(ALEXANDER G. SHLIAPNIKOV)

 

Concepção e Organização, Compilação e Tradução

Lo Scaltro von Genua

Novembro de 2004

emilvonmuenchen@web.de

Clique aqui para a Versão em Língua Alemã  

 

 

Em saudação aos trabalhadores e trabalhadoras revolucionários

e à vitória da Revolução Proletária Internacionalista no Brasil

e em todos os continentes da América

 

ASPECTOS HISTÓRICOS

 

Nos tempos distantes e obscuros da dominação czarista, não existiu entre nós nenhuma associação sindical que pudesse ser comparada com os sindicatos europeus[1].

 

O Poder Czarista comportava-se de maneira hostil em face da unificação dos trabalhadores.

Porém, a ausência de associações sindicais não significava que não existisse luta alguma em nossas fábricas, empresas e outros locais de trabalho ou mesmo que, nelas, prevalecessem algo parecido com paz e tranqüilidade.

A luta econômica, i.e. as greves, as insurreições dos trabalhadores contra a servidão e a opressão, os fechamentos de fábricas e o emprego da violência armada contra os trabalhadores etc., pertencem à história já dos anos anteriores, em nosso país. 

Coisas semelhantes ocorreram entre nós mesmo nos tempos precedentes, à época da servidão dos camponeses.

E, já desde a Primeira Revolução Russa de 1905, o Governo conferiu às associações sindicais uma fraca possibilidade de existirem.

Sem embargo, quanto mais o movimento revolucionário se intensificava e expandia, quanto mais o movimento sindical crescia e se fortalecia, tanto mais adotava ele medidas implacáveis, visando a oprimí-los mediante a dissolução de todas as associações.

Em tais circunstâncias, a direção da luta econômica cabia às organizações partidárias ilegais.   

Mesmo durante a I Guerra Mundial, as greves econômicas e políticas não se detiveram em nosso país.

Uma dessas greves – a greve econômica nas Fábricas Putilov, ocorrida em 18 de fevereiro (3 de março) de 1917 – constituiu o prelúdio da Revolução de Fevereiro.

 

SITUAÇÃO PRESENTE

 

A Revolução de Fevereiro abriu caminho para a organização autônoma das massas proletárias.

As organizações políticas de massas – Sovietes de Trabalhadores, mais tarde também os Sovietes de Soldados, as organizações de Partido, agora legalizadas – foram criadas no mesmo período em que o foram as associações sindicais dos trabalhadores.

Cabe mencionar aqui o interessante fato de que os trabalhadores de uma indústria tão poderosa como a Indústria Metalúrgica foram uns dos últimos que se organizaram em associações sindicais.

O motivo dessa situação reside na circunstância de que os trabalhadores mais avançados da grande indústria foram os revolucionários mais dinâmicos, sendo que, em primeiríssimo lugar, organizaram-se os trabalhadores da pequena indústria e os trabalhadores artesãos.

Aqueles dedicaram toda sua energia e todas as suas forças sobretudo à solução das tarefas de ordem geral.

Lutaram nas ruas com armas nas mãos ou construíram Sovietes e organizações partidárias. 

A jornada de trabalho de 8 horas foi introduzida por via revolucionária.

Comitês de Fábrica e Comissões Operárias foram, por sua vez, constituídos desde o primeiro dia, nas fábricas, nas oficinas e em outras empresas.

Ambas essas novidades foram posteriormente reconhecidas pelos empresários e pelo Governo de então.

 

CONSTRUÇÃO DA ORGANIZAÇÃO

 

As associações profissionais haviam de ser construídas em um período tempestuoso de lutas econômicas e políticas.

A questão de saber como deveríamos organizar as associações, tendo em conta o interesse da vitória da luta de classes, resolvemo-la por meio da utlização quer de nossa própria experiência, quer de toda a experiência do movimento sindical internacional. 

Tomamos dessa experiência sua última palavra : a unificação dos trabalhadores segundo seu locais de trabalho, sem consideração de seus ofícios e profissões (associações industriais).

Evidentemente, surgiram reivindicações econômicas de alguns grupos de trabalhadores em favor da organização de suas associações “profissionais” específicas.

Foram empreendidas até mesmo tentativas de construir tais associações, porém o instinto de classe e a disciplina de classe prevaleceram.

O princípio da organização por indústria triunfou.

As jornadas de luta que vivenciávamos outrora exigia de todos nós os mais extremos esforços, tenacidade e energia.

Tudo isso podia ocorrer apenas através da centralização de todas as forças organizadas do proletariado .

Por isso, tivemos de repudiar o princípio federativo de relações recíprocas e acolher o princípio de associação unificada centralizada para cada ramo de indústria, em escala de toda a Rússia.

Graças a esse princípio organizativo pudemos arrastar para o interior de nossa organização amplas massas de trabalhadores, no curso de apenas alguns meses.

  

ATIVIDADE 

 

Já nos primeiros meses de sua existência, as organizações sindicais foram colocadas diante da questão embaraçosa e complicada relativa à regulação dos salários.

Não se tratava aqui meramente do próprio aumento geral de salários, mas sim da criação de uma ordem qualquer destinada à determinação dos méritos do trabalho e à abolição da arbitrária divisão dos trabalhadores, tal como operada pelos empresários, segundo diferentes classes salariais.

Por essas razões, surgiu entre nós, na Rússia, todo um movimento, rico em literatura e todos os tipos de estatísticas, dedicadas aos salários.

Esse movimento, desenvolvido no interior dos sindicatos, absorveu mais do que a metade do tempo, existente entre a Revolução de Fevereiro e a Revolução de Outubro. 

 

SALÁRIO PADRÃO

 

Nas primeiras semanas de sua existência, todas as associações sindicais encontravam-se abarrotadas com todos os tipos de reivindicações, adotadas nas assembléias gerais de fábrica.

A reivindicação fundamental daquele período eram a supressão do injusto sistema de determinação arbitrária dos salários pelos empregadores e o aumento de salário, em conseqüência do encarecimento de preços, havido durante a guerra.

As organizações da grande indústria – tais como da indústria metalúrgica, têxtil e química, das gráficas etc. – estavam tão sobrecarregadas com reivindicações que era fisicamente impossível tratar todos os casos específicos.

Por exemplo, apenas a organização dos metalúrgicos de Petersburgo tinha de tratar de mais de 200 reivindicações, ao passo que outras contavam-nas também às dúzias.

Essa situação forçou os dirigentes a procurarem medidas padrões de ordem geral que ordenassem e regulassem os salários e as condições gerais de trabalho.

O movimento grevístico que surgia foi dirigido e organizado no interior do quadro dessas organizações.

Todos movimentos grevísticos selvagens foram reprimidos pelas organizações do modo mais rigoroso.

Todas as organizações de trabalhadores adotaram uma escala comum em relação ao acordo coletivo salarial, praticado no interior das indústrias específicas de uma determinada região, possuindo validade enquanto modelo para os salários de todos os trabalhadores empregados, desde o varredor de rua e do vigia até o trabalhador técnico mais especializado. 

Pela primeira vez na história do movimento sindical do mundo inteiro, coube-nos, no verão de 1917, a tarefa de lutar pela adoção de um salário padrão que não era estabelecido segundo fábricas ou profissões específicas, mas sim pela fixação de um salário padrão geral segundo o qual os salários dos trabalhadores de todas as indústrias pudessem ser regulados.  

Graças a essa tática, a questão do salário, esse nervo vital da existência proletária das organizações dos trabalhadores, foi tomada em nossas  próprias mãos.

O resultado foi o surgimento de um fenômeno até então desconhecido : trabalhadores de fábricas inteiras ingressaram nas organizações e adotaram resoluções que obrigavam todos os trabalhadores a aderirem às organizações sindicais.

A União dos Metalúrgicos de Petersburgo contava, no início da luta pelo salário padrão, com 70.000 membros. Ao final dela, passou a contar com 220.000 membros, i.e. com todo o número de trabalhadores dessa indústria.

O mesmo sucesso também tiveram as outras organizações.

De um modo particularmente rigoroso, os trabalhadores supervisionavam o exercício do dever de ser filiado à organização.

Levaram-na ao ponto de que um trabalhador não sindicalizado não podia obter trabalho algum, conseguindo, dessa forma, que todos os trabalhadores fossem obrigados a organizarem-se sindicalmente. 

   

CONTROLE DOS TRABALHADORES 

 

Em conexão com a crise econômica emergente e também com as pioras decorrentes dos abastecimentos de guerra e da especulação, praticada com matérias primas e mercadorias, a idéia de controle das empresas, operantes seja no domínio da indústria, seja no domínio do comércio, adquiriu grande sucesso entre os círculos dos Comitês de Fábrica (Comissões Operárias).

Em favor do “Controle dos Trabalhadores”, interviram também as amplas massas de trabalhadores e, logo a seguir, surgir, nessa base, um movimento intelectual.

O Governo estava evidentemente contra o controle dos trabalhadores, posicionando-se de modo hostil em relação a ele, porém foi forçado a abrir as portas de suas instituições aos representantes das associações sindicais e de outras organizações “sociais”, concedendo-lhes o controle da indústria bélica militarizada.

Isso pouco satifez, porém, a classe trabalhadora e a reivindicação de controle dos trabalhadores mais intenso seguiu sendo levantada até a Revolução de Outubro.

   

O ANTIGO GOVERNO PROVISÓRIO

E AS ORGANIZAÇÕES SINDICAIS

 

O Governo Provisório de então que se compunha de uma coalizão de socialistas oportunistas e monarquistas-liberais promulgou um Decreto sobre o Registro das Organizações Sindicais.

Porém, devido ao fato de que todas as organizações dos trabalhadores posicionavam-se de maneira hostil em relação ao Governo, ignoraram elas os decretos por ele promulgados e instituíram suas organizações, sem esperar pela permissão concedida pelas autoridades.

Nas questões relativas à luta travada entre capital e trabalho, o antigo Governo Provisório, valendo-se de seus ministros “socialistas”, uma papel de intermediação, sendo que nisso portava-se, porém, de modo indeciso e hesitante.

Na medida em que em não contava com apoio vindo de nenhuma parte, temia ocupar-se com as questões essenciais e esforçava-se por implementar um pacto entre as partes litigantes, por meio de um “acordo”.

O resultado foi o de que os trabalhadores não conseguiram impor suas mínimas reivindicações, em um momento em que todo o Direito se encontrava do seu lado.

O movimento grevístico expandiu-se por todo o país.

 

AS ORGANIZAÇÕES SINDICAIS

E OS PARTIDOS POLÍTICOS

 

Na questão da relação para com a política em geral e, particularmente, para com o socialismo, nossas organizações rejeitaram a assim chamada neutralidade dos sindicatos.

Elas consideraram a si mesmas e ao movimento sindical apenas como parte do inteiro movimento da Rússia e do proletariado internacional. 

Todas as questões que diziam respeito ao Partido político do proletariado encontraram viva ressonância e apoio junto a todas as organizações sindicais.

A fisionomia política de nossas organizações modificou-se no primeiro período da Revolução Russa, simultaneamente com a mudança de clima, consciência e ação das massas trabalhadoras.

No momento em que as organizações de Petersburgo tornaram-se inteiramente “bolcheviques”, i.e. aderiram ao Programa do Partido Operário Social-Democrático Russo (Bolchevique), cindiu-se, concomitantemente, o Conselho Central dos Sindicatos de Toda a Rússia, eleito na Conferência de Junho de 1917, em duas partes, ligadas uma com o Partido Menchevique-Oportunista outra com o Partido Bolchevique. 

O primeiro congresso que ocorreu depois da Revolução de Outubro conferiu 80% dos votos para os bolcheviques.

Nossas organizações consideravam a libertação proletária da exploração enquanto sua tarefa, sendo que a imprensa burguesa daquele período qualificou-nos, por isso, de “segunda linha das trincheiras bolcheviques.”

À época do mais rudimentar Movimento de Julho, algumas das organizações sindicais de Petersburgo foram saqueadas e desvastadas pelo corpo de oficiais militares do antigo Governo.

 

A POLÍTICA DO ANTIGO GOVERNO PROVISÓRIO

E AS ORGANIZAÇÕES DOS TRABALHADORES

 

Por sua própria natureza, o Governo de Coalizão não era adequado para implementar nem mesmo uma única medida revolucionária.

A terra e o solo permaneciam na posse dos latifundiários que começavam a com elas especularem.

As associações camponesas apossavam-se arbitrariamente da terra, depois de derrubarem e desbaratarem os latifudiários.

Fabricantes, empresários, banqueiros e comerciantes praticavam especulações inescrupulosas com as encomendas militares e artigos de consumo das amplas massas.

O Governo não adotava nenhuma medida contra esses bandidos capitalistas.

Capitalistas e burocratas contra-revolucionários já começavam abertamente a sonhar com a repressão da Revolução dos Trabalhadores e Camponeses.

Em seu congresso, os fabricantes e os industriais de Moscou ameaçavam os trabalhadores com “a mão cadavérica da fome.”

Passaram rapidamente das palavras à prática e começaram a fechar suas fábricas e empresas.

Apesar do desejo claramente declarado dos soldados em favor de uma rápida conclusão da paz, o Governo decidiu a questão da guerra inteiramente contra a vontade do povo.

O Governo de Coalizão substituiu a consigna da Revolução de Fevereiro : “Pão, Paz, Terra e Liberdade” pela consigna de Vitória Imperialista, pela consigna da Ofensiva, cuja falta de perpectiva e ignomínia estava evidente para todo e qualquer cidadão racional.

A cada dia que passava, o Governo distanciava-se, cada vez mais, dos trabalhadores, camponeses e soldados revolucionários.

Ele se esforçava por encontrar apoio junto a outras camadas da população, junto à burguesia e à pequena burguesia.

Com isso, porém, não se contentava : começou a adotar também decretos e medidas contra-revolucionários.

O Ministro “Socialista” Skobelev dirigiu a luta contra os Comitês de Fábrica (Comissões Operárias) e tentou-os enfraquecer, de todos os modos, retirando-lhes seus Direitos já adquiridos.

Um outro Ministro, Avksentiev, também um “socialista”,  encabeçou uma expedição punitiva contra os camponeses arbitrários que não queriam esperar pelos decretos da “Assembléia Constituinte” sobre a concessão de terras.

O Ministro Menchevique Tseretelli gabou-se por ter sido o primeiro que desencadeou a guerra contra os aquartelamentos operários, orquestrou buscas policiais nas casas de trabalhadores e apreendeu as armas, obtidas no quadro da Revolução de Fevereiro.  

A atuante reação não era, então, ociosa : ela organizou-se, preparou-se para ataques ativos contra a revolução, contra os trabalhadores, camponeses e soldados.

A contra-revolução acantonou-se nas forças armadas, entre os oficiais e junto à juventude das Academias de Guerra.

As organizações dos trabalhadores viam e entendiam para onde a política reacionária do Governo de Coalizão o país.

Para todos os membros dirigentes do movimento sindical que não se encontravam cegos pelo fanatismo político e pelo jogo político de suas frações, estava claro o fato de que apenas o movimento revolucionário dos próprios trabalhadores, soldados e camponeses na forma de seus centros de gravidade políticos – i.e. os Sovietes – podia salvar as conquistas revolucionárias, impulsionando para adiante a Revolução Russa.   

E, assim, aconteceu, já antes mesmo da Revolução de Outubro, que a situação da classe colocasse a classe trabalhadora em face da seguinte alternativa – a tomada do poder.

Nessa questão, as associações sindicais não se posicionavam de modo neutro.

Enquanto filhas autênticas da revolução, elas consideravam todos os objetivos e tarefas da Revolução Proletária como sendo seus próprios objetivos e tarefas.

Também todas as dificuldades que houveram de emergir no dia da tomada proletária do poder não puderam manter o proletariado distante da tarefa que lhes fora colocada pela história : o de ter de seguir o caminho espinhoso da revolução social que haveria de conduzir à inteira libertação dos trabalhadores.

 

A CONTRA-REVOLUÇÃO 

 

Já se sabe desde há muito tempo que os representantes da contra-revolução não são bons oradores, senão homens de ação.

Depois de que o Governo de Coalizão com seus Ministros Socialistas Tseretelli, Skobelev, Mikitin, Avksentiev, Kerensky e outros produziram bastante desordem e ruína nas fileiras da assim chamada “Democracia Revolucionária”, surgiu, então, o general cavalgando o seu “corcel branco”, para desferir um golpe mortal na revolução.

Tropas especialmente recrutadas, compostas por unidades da Divisão “Selvagem” do Cáucaso e por Cossacos, marcharam para a Petersburgo Revolucionária.

Sem dúvida, o Governo estava em contato com esta manovra.

Porém, o perigo da reação que se aproximava desencadeou tal irrupção de entusiasmo revolucionário e de desejo revolucionário de luta que o Governo, ou melhor dito, sua fração socialista viu-se forçada a despertar a impressão de que pretendia intervir contra esse general contra-revolucionário.

Não obstante, ninguém acreditou na sinceridade das medidas que foram adotadas.

Os trabalhadores prepararam-se energica e autonomamente para a defesa em face da reação vindoura e com eles encontravam-se os melhores elementos da nação e da guarnição de Petersburgo. 

Delegados do Soviete de Petersburgo foram enviados para realizarem trabalho de agitação entre as tropas que se aproximavam e conseguiram entrar em contato direto com os soldados, esclarecendo-lhes para onde e para que estavam sendo conduzidos, para que objetivo haviam sido trazidos até ali.

Tão logo se soube da verdade, diversas unidades de tropa enviaram seus representantes ao Soviete de Petersburgo, assegurando sua adesão.

Graças às medidas adotadas pelos trabalhadores, organizações e Sovietes, fracassou a ofensiva contra-revolucionária.

Entretanto, seus organismos e autores permaneceram intactos, sobrevivendo no Governo e em seus arredores.

Já em setembro e no início de outubro de 1917, tornou-se evidente para todas as organizações de trabalhadores que a salvação da revolução em face das permanentes tentativas, impulsionadas pelos contra-revolucionários e reacionários, seria possível tão somente através da tomada do poder por parte da classe trabalhadora, em aliança com os camponeses e as forças armadas revolucionárias.     

Nesses meses, a idéia do Soviete (Conselho) gozou junto às organizações de trabalhadores não apenas simpatia platônica, senão ainda a maioria esmagadora dos representantes do movimento sindical.

A maioria das direções das associações e dos Comitês de Fábrica demonstrou-se como adepta ativa do Poder dos Sovietes.

Então, no início de outubro (segundo o calendário do velho estilo), ainda antes do II Congresso dos Sovietes,  o proletariado revolucionário de Petersburgo, contando com apoio da guarnição e da marinha, passou da defesa para o ataque, direcionado contra a contra-revolução.

No curso de algumas horas, o poder do antigo Governo, que a burguesia e os oportunistas haviam recebido das mãos do primeiro Soviete de Petersburgo, veio a ser aniquilado por esse próprio Soviete.

Toda o restante da Rússia seguiu o exemplo de Petersburgo. 

A bandeira da luta em prol do Poder Soviético foi desfraldada em todos os lugares do país, desencadeando, a partir de todas as direções, uma resistência desesperada da parte dos exploradores e seus lacaios.

 

A LUTA PELO PODER SOVIÉTICO

 

O II Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia que se reuniu em 25 de outubro de 1917 acolheu a política do Soviete de Petersburgo por esmagadora maioria.

O Governo de Coalizão que existira até então foi deposto.

A Rússia foi proclamada República dos Conselhos. 

O Governo Provisório Burguês-Socialista que havia surgido no Palácio Tauride sob a proteção do Soviete dos Trabalhadores e Soldados de Petersburgo decidira, agora, defender o poder e a dominação da burguesia com o auxílio da Divisão Selvagem e os soldados de Krasnov.  

Kerensky que organizava uma marcha sobre Petersburgo foi, porém, derrotado e sobreviveu tão somente graças à piedade dos comandantes vermelhos da classe trabalhadora.

Durante o defraldar dessas lutas, passaram os Comitês de Fábrica e as organizações sindicais para debaixo das bandeiras do Poder Soviético. 

As fábricas forneciam abastecimentos de guerra e executavam reparações, enquanto os trabalhadores organizados preocupavam-se em manter ininterrompido o funcionamento das instituições sociais e estatais gerais.

 

O MOVIMENTO SINDICAL

DEPOIS DA REVOLUÇÃO DE OUTUBRO

 

A Revolução de Outubro produziu uma mudança completa na política e na tática do movimento sindical.

Se antes, na época do regime capitalista, toda a tarefa das organizações sindicais consistia  em unificar os trabalhadores para travarem a luta em prol da melhoria de suas condições materiais, redução da jornada de trabalho, aumento dos salários, seguro social contra acidentes, enfermidades, invalidez e velhice, melhoria das condições sanitárias dos locais de trabalho e das moradias (tutela dos trabalhadores) etc., depois da revolução que concedeu todo o poder aos Sovietes (i.e. os trabalhadores e os camponeses se tornaram os senhores do poder do Estado), não pode mais essa tarefa ser implementada no interior dos estreitos limites da “tutela dos interesses sindicais e econômicos” da classe trabalhadora. 

No momento em que o poder político situou-se nas mãos da classe trabalhadora, teve ele de fundar-se sobre sobre o destino das organizações econômicas do proletariado, ou melhor, teve de ser assumido por essas organizações e, então, a distribuição do exercício do poder tornou-se uma tarefa mais dinâmica.

Essa tarefa veio a ser de início cumprida, antes mesmo de que as diretrizes e tarefas gerais das organizações sindicais fossem decididas na nova era.

Da Revolução de Outubro ao I Congresso das Organizações Sindicais – transcorridos aproximadamente dois meses – foi realizado um trabalho colossal por parte das organizações sindicais e os Comitês de Fábrica. 

A atividade das organizações sindicais impulsionada durante esses dois meses de luta em prol do socialismo foi em grau significativo impulsionada pelo tipo de luta deflagrada pelo capital organizado.

Tal como se sabe, os capitalistas e seus adeptos responderam à revolução dos trabalhadores e camponeses com greves e sabotagem.

Fecharam as fábricas e as empresas.

Negaram-se a pagar os trabalhadores pelo tempo em que haviam para eles trabalhado.

Escondiam dinheiro e matérias primas etc.  

Em uma palavra : declararam guerra aos Sovietes e às organizações sindicais.

Derrotados no domínio da política, os capitalistas deslocaram a luta do teatro militar da guerra para o domínio da economia, supondo que assim desfiririam um golpe decisivo contra a classe trabalhadora.

O Governo reagiu a esse fechamento de fábricas e empresas com expropriação e mandou que fosse retomado o trabalho nas fábricas.

As organizações sindicais responderam à sabotagem dos funcionários públicos com o engajamento de novas forças advindas da classe trabalhadora.

Por força das circunstâncias, competia às organizações sindicais e aos Comitês de Fábrica a tarefa responsável de organizar a direção das fábricas.

Nessa atividade, não podíamos nos basear na experiência do proletariado internacional, como era o caso da organização da administração do Estado.      

Em nenhum livro da história, em nenhum catequismo socialista, encontraríamos algum manual do gênero.

A necessidade forçou-nos a sermos os primeiros a trilhar o caminho da revolução social.

Havíamos de atuar e aprender, partindo de nossa própria experiência.

Fizemos isso e ainda continuamos a fazê-lo.

 

O CONGRESSO

 

O I Congresso das Organizações Sindicais de Toda a Rússia teve lugar entre 7 e 14 de janeiro de 1918, precisamente dois meses após a Revolução de Outubro.

Participaram desse congresso 716 delegados com direito de voto deliberativo e 75 com direito de voto consultivo.

As maiores associações sindicais que estavam representadas nesse congresso possuíam os seguintes números de afiliados:

 

A Associação Sindical Operária de Toda a Rússia dos 

·        Trabalhadores Metalúrgicos ….……………..………….  600 000

·        Trabalhadores nas Indústrias Têxteis …….………….  500 000

·        Trabalhadores nas Indústrias de Couro ….....……….  200 000

·        Jovens Empregados das Instituições

·        Estatais e Públicas ..……….…………………….....…….  180 000

·        Trabalhadores Químicos ..………………….....…………  150 000

·        Estivadores, Marinheiros da Frota Mercantil ….....…..  150 000 etc. etc.

 

No total, 2.638.812 afiliados.

Na III Conferência, ocorrida em julho de 1917, i.e. há seis meses antes desse congresso, encontravam-se, no total, 1.475.429 trabalhadores representados. 

No curso de seis meses, manifestou-se o progresso do movimento sindical em um aumento do número de filiados na ordem de 1.200.000 trabalhadores.

Isso tudo comprovou o poderoso incremento das organizações dos trabalhadores.

Uma nova diretriz de atividade havia de ser apresentada ao I Congresso das Organizações Sindicais.

Cabia estabelecer as tarefas do movimento sindical sob a Ditadura de um proletariado organizado politicamente nos Sovietes.

Nesse congresso, chocaram-se duas orientações:

A)    uma politicamente neutra, essencialmente hostil à Revolução de Outubro, e que conquistou algumas dúzias de votos e

B)    uma segunda linha de luta, essencialmente socialista, e que abarcou 80% dos representantes das organizações sindicais.

Essas novas tarefas foram da seguinte forma sintetizadas em uma resolução congressual:

 

1)     Na Rússia, a vitória política dos trabalhadores e dos camponeses pobres sobre os imperialistas e seus agentes pequeno-burgueses leva-nos, ao mesmo tempo, ao início da Revolução Socialista Internacional e à vitória sobre o método de produção capitalista. Os Sovietes de Trabalhadores e Soldados e os Deputados Camponeses tornaram-se órgãos de poder. A política do Governo Operário-Camponês passou a ser a política de nova organização socialista de sociedade.

2)     A Revolução de Outubro que havia transferido o poder político das mãos da burguesia para as mãos da classe trabalhadora e dos camponeses pobres criou condições inteiramente novas para a atividade de todas organizações dos trabalhadores em geral, encontrando-se entre estas, evidentemente, também as organizações sindicais.

3)     Os marxistas revolucionários jamais consideraram as organizações sindicais apenas enquanto órgãos da luta econômica do proletariado, dedicadas tão somente a alcançarem a melhoria da situação econômica da classe trabalhadora dentro dos limites da sociedade capitalista. Pelo contrário, os marxistas revolucionários sempre consideraram as organizações sindicais como órgãos destinados a lutarem de mãos dadas com as outras organizações de luta da classe trabalhadora em prol da Ditadura do Proletariado e da concretização do socialismo. Assim, é tanto maior o papel que compete às organizações sindicais na luta pela execução do socialismo no presente momento, em que a luta de classes levou o proletariado russo, situado no dealbar da revolução socialista, diretamente à concretização prática de uma série inteira de medidas políticas.

4)     A idéia de “neutralidade” das organizações sindicais foi e permanece sendo uma idéia burguesa. Jamais houve ou haverá qualquer tipo de neutralidade na grande luta histórica entre o socialismo revolucionário e seus oponentes. Por detrás de uma aparente neutralidade, esconde-se quase sempre um apoio efetivo à política burguesa e à traição dos interesses da classe trabalhadora. Todos os socialistas autênticos devem romper, de uma vez por todas, com a idéia de “neutralidade” das organizações sindicais.

5)     Tanto menos pode ser “neutro” o movimento sindical na Rússia, país que vivencia uma grande revolução e derrubou o jugo da burguesia. Todas as questões que surgiram no curso da revolução diante do proletariado na Assembléia Constitutinte (Assembléia Nacional da Rússia) : a questão da nacionalização dos bancos, luta contra a imprensa burguesa, anulação das dívidas e luta a ser travada contra a contra-revolução atraem diretamente para si o interesse das organizações sindicais em seu conjunto. Em todas essas questões, as organizações sindicais, consideradas em seu conjunto, devem apoiar a política do Poder Socialista Soviético que é exercida através do Conselho dos Comissários do Povo.

6)     O ponto de gravidade da atividade das organizações sindicais no momento há de deslocar-se para o domínio da organização da economia. As organizações sindicais, entrevistas como organizações de classe do proletariado, construídas segundo o princípio do ramo de atividade industrial, devem assumir seu principal trabalho principal na organização da produção e na reconstrução das forças produtivas debilitadas do país. A participação enérgica em todos os órgãos que regulam a produção, a organização do controle dos trabalhadores, o registro e repartição das forças trabalhadoras, a organização da troca entre o campo e a cidade, a enérgica participação na desmobilização da indústria de guerra, a luta contra a sabotagem, a introdução do dever geral de trabalho etc.: eis aí as nossas tarefas do dia.  Uma atenção especial deve ser dedicada à centralização do movimento sindical em escala de toda a Rússia e à organização de poderosas associações de trabalhadores rurais.  

7)     Em estágio desenvolvido, as organizações sindicais devem, no processo da Revolução Socialista emergente, tornar-se orgãos do poder socialista que atuem enquanto tais e dêem vida, conjuntamente com outras organizações, à concretização de novos princípios da organização da economia.

8)     Medidas de transição para a transformação das organizações sindicais em tais órgãos e para a unificação de todas as organizações econômicas da classe trabalhadora, em particular os Comitês de Fábrica (Comissões Operárias), são as seguintes :  estreita colaboração e vínculo organizativo indissolúvel entre as organizações sindicais e as organizações políticas do proletariado, em primeira linha com os Sovietes de Trabalhadores e Soldados.

9)     O congresso encontra-se convencido do fato de que, enquanto resultado do processo em referência, as organizações sindicais devam transformar-se em órgãos do Estado Socialista, constituindo a participação neles um dever social para todas as pessoas, ocupadas na respectiva produção. O movimento sindical russo não pode cumprir suas grandes tarefas, sem entrar em estreita conexão com o movimento sindical internacional. O congresso considera como sua tarefa contribuir solidamente para o renascimento do movimento sindical internacional, convocando um congresso sindical internacional geral, como também uma série de congressos internacionais de ramos específicos de produção (indústrias).          

 

Esses princípios fundamentais embasavam as atividades das organizações sindicais.

Após o I Congresso em referência, as organizações sindicais deslocaram o centro de gravidade de suas atividades não apenas para o domínio da organização econômica, senão ainda tomaram parte ativa em todos os domínios da atividade soviética, distribuindo os trabalhadores nos órgãos estatais e formando-os.  

Elas atuaram também ativamente no domínio da defesa de nossa República Socialista.

Graças à energia dos trabalhadores das indústrias, foi organizado o trabalho nas forças armadas.

A produção de uniformes, de armamento e de outros equipamentos processou-se sob a ativa participação não apenas do proletariado organizado e avançado, mas também com o auxílio das amplas massas. 

Além disso, as organizações sindicais concederam alguns voluntários e uma parcela dos trabalhadores responsáveis para a execução de trabalhos das mais variadas espécies das forças armadas.

O II Congresso da Organizações Sindicais de Toda a Rússia teve lugar entre 10 e 25 de janeiro de 1919 e contou com 4 422 000 trabalhadores representados.

O crescimento registrado durante o curso de um ano foi de 800 000 membros afiliados.

Nesse ano, um grande trabalho de organização foi empreendido pelas organizações.

Todos os resquícios das velhas organizações que existiam, ainda aqui e ali, segundo o princípio das associações profissionais, foram reformulados, realizando-se uma unificação em conformidade com o princípio do ramo de atividade industrial. 

No domínio das tarefas, o II Congresso pôde abordar a atividade do movimento sindical de modo substancialmente mais concreto, desenvolvendo a linha fundamental estabelecida pelo I Congresso.

A principal Resolução sobre as Tarefas das Organizações Sindicais, acolhida pelo II Congresso, foi a seguinte:

 

« O ano de Ditadura Política e Econômica do Proletariado comprovou inteiramente a expansão da Revolução Proletária Mundial, bem como a correção do posicionamento do I Congresso das Organizações Sindicais de Toda a Rússia que ligou irreversívelmente o destino do proletariado economicamente organizado ao destino dos trabalhadores e camponeses.

A tentativa de, sob a bandeira da “unidade” e da “independência” do movimento sindical, opor esse proletariado economicamente organizado aos orgãos de sua Ditadura Política de Classe conduziu os grupos que apoiavam essas consignas à luta aberta contra o Poder Soviético, colocando-os fora das fileiras da classe trabalhadora.

Durante o processo do trabalho prático comum com o Poder Soviético, com vistas ao fortalecimento e à organização da economia nacional, passaram as organizações sindicais do controle sobre a produção à organização da mesma, na medida em que participaram, de modo ativo, seja da direção das fábricas consideradas singularmente, seja da inteira vida econômica do país.    

Porém, a tarefa de socialização de todos os meios de produção e de organização da sociedade segundo os novos fundamentos socialistas exige, permanentemente, trabalho enérgico na reconstrução de todo o aparato social, criação de novos órgãos para a estatística, controle e regulação de toda a atividade de produção e consumo, orgãos esses que se baseiam na atividade autonônoma e organizada das amplas massas interessadas dos próprios trabalhadores. 

Isso prescreve às organizações sindicais o exercício de uma participação mais enérgica nas atividades do Poder Soviético.

Por exemplo : mediante o trabalho direto em todos os órgãos estatais de controle proletário de massas sobre as atividades dos órgãos do Estado e sobre a execução de tarefas específicas do Poder Soviético, realizada por meio de organizações. 

Além disso, a colaboração na reorganização de diversas instituições estatais e sua gradativa substituição por suas organizações, por meio da unificação dos órgãos associativos com os órgãos do poder do Estado.

Entretanto, em um certo estágio de desenvolvimento das organizações sindicais e do movimento sindical, marcado pela existências de organizações insuficientemente formadas, seria, entretanto, um erro serem executadas tanto a imediata transformação das associações em órgãos do poder do Estado e sua unificação com eles quanto a apropriação arbitrária das funções dos órgãos estatais por parte das organizações sindicais.

Todo o processo de completa unificação das organizações sindicais com os órgãos do poder do Estado (o assim denominado processo de estatização) deve emergir enquanto resultado inevitável da atividade comum e acorde, como também da preparação das amplas massas através da organização sindical para o exercício da direção da administração do Estado e de todos os órgãos reguladores da economia.

Por sua vez, isso coloca para as organizações sindicais a tarefa de agregação também das amplas massas proletárias e semi-proletárias não organizadas no seio de fortes organizações industriais.

Além disso, também acoplamento dessas, sob o controle das organizações proletárias, na administração socialista, no trabalho geral de sua administração organizativa e de fortalecimento da disciplina sindical.

Participando de todos os domínios da Administração Soviética e formando-se a partir delas mesmas órgãos do Estado, devem as organizações sindicais, através de suas atividades e através da incorporação nas mesmas de suas organizações e das amplas massas de trabalhadores, educar e preparar estas últimas para a administração não apenas da indústria, senão também de todo o organismo do Estado. »

                 

RESUMO 

 

Da Revolução de Outubro até o dia de hoje, transcorreram já dois anos e meio.

Essas trinta meses foram para o proletariado russo e para as organizações sindicais um período de luta desesperada.

Contra nós, moveram-se não apenas a Santa Aliança dos Contra-Revolucionários Russos, como também uma poderosa coalizão do capital mundial internacional.

Os imperialistas de todos os países não se contentam com o mero apoio material da contra-revolução.

A Inglaterra, a França, os EUA, o Japão e outros países enviaram contra nós tropas armadas.

Em particular, as pequenas nacionalidades foram instigadas contra nós.

Debilitados por uma Guerra Imperialista de 4 anos, tivemos de pegar em armas novamente. 

Vivenciamos um período monstruosamente difícil.

Nossos inimigos embargaram-nos o acesso às áreas de produção de meios de alimentícios, materiais combustíveis e matérias primas.

A fome e a epidemia ceifam ainda hoje a vida de muitos seres humanos.

Porém, apesar de todas as dificuldades, tensionamos nossas forças, derrotamos todos nossos inimigos e, apenas presentemente, no terceiro ano da Revolução Proletária, estamos sendo capazes de ocupar-nos com o trabalho de nossa vida econômica doméstica.

Entretanto, até mesmo nesses anos de luta, em que fomos forçados a empregarmos tudo e todos os nossos melhores recursos para a guerra, travada contra os contra-revolucionários, conseguimos realizar uma colossal atividade organizativa, no domínio econômico.

Hoje, podemos dizer orgulhosamente que assumimos toda a economia e para ela criamos órgãos administrativos.

A propriedade privada dos meios de produção foi suprimida, as terras do proprietários fundiários e do Czar foram nacionalizadas.

Fábricas, minas, canais e fábricas, toda a frota mercantil, foram expropriadas dos capitalistas.

Da anarquia capitalista e das unidades econômicas concorrentes, criamos uma única economia nacional.

No curso de dois anos, 4.000 fábricas e 16.000 navios (embarcações fluviais e oceânicas) foram nacionalizadas pelo Governo.

Adicionalmente, 60.000.000 deciatinas (LSvG.: 1 deciatina = 1,1 hectare, sendo que 1 hectare corresponde a 100 decâmetros quadrados) de solo dos proprietários fundiários privados. 

As empresas foram fundidas em 90% nos assim chamados “trusts” (LSvG.: agrupamentos de empresas).

Para a preparação e o transporte de matérias primas, estão organizadas 4.000 direções fabris e muitos órgãos diferentes.

Em todas essas atividades, as organizações sindicais desempenham uma papel gigantesco.

Elas participam da direção de toda a economia nacional, da base ao ápice.

O órgão supremo, a Presidência do Conselho Supremo da Economia Nacional é nomeado e confirmado em sua função, de comum acordo com o Conselho Central das Organizações Sindicais de Toda a Rússia.

A organização desse ou daquele ramo de atividade industrial é executada com a participação ativa da associação da indústria respectiva.

O Conselho Supremo da Economia Nacional é divido em Departamentos de Produção que, com raras exceções, coincidem inteiramente com as organizações industriais da classe trabalhadora.

No ápice de um Departamento, situa-se a Administração Colegiada, cujo Presidente atua como gerente responsável.

As Administrações (ou Presidências) são formadas com base em comum acordo, firmado entre a Presidência do Conselho Supremo da Economia Nacional e a Presidência do Comitê Central das Organizações Industriais respectivas, e, em grande parte, por membros e candidatos das organizações sindicais.

Contemplamos nosso movimento sindical apenas como um lado, uma parte do movimento socialista, atuante em escala internacional, que apenas constitui um todo único ao unificar-se com o movimento político.

As Administrações das Fábricas ou dos Grupos de Fábricas (“truts”) são constituídas também segundo o princípio acima referido.

Os Departamentos do Conselho Supremo da Economia Nacional de Toda a Rússia estabelecem acordos com as organizações sindicais, em todos os casos concretos.

Para a organização da administração de um trust, i.e. de um grupo de fábricas, são convocadas conferências dos representantes das administrações fabris e dos Comitês de Fábrica.         

Essas conferências surgem e são organizadas sob a participação direta das organizações sindicais.

Em vista do fato de as associações poderem apenas gerar força vital e direção consciente, transcorrem as conferências de modo extremamente técnico e harmônico.

As candidaturas para as presidências centrais e locais são debatidas profundamente tanto na direção como no plenário das conferências.   

As instalações internas das empresas, a execução da legislação de proteção ao trabalho, a manutenção da disciplina dos trabalhadores, em uma palavra : tudo o que diz respeito à atividade social – não propriamente econômica – das fábricas encontra-se concentrado nas mãos do Comitê de Trabalhadores de Fábrica que é eleito por todos os trabalhadores de uma determinada firma.

O número de membros desse comitê é fixado em função do tamanho da empresa em questão.

O Comitê de Fábrica eleito é um órgão responsável da organização sindical, situado em determinada localidade, e participa da administração de todas as questões sindicais-associativas através de seus representantes junto às conferências periodicamente convocadas.    

O Comitê de Trabalhadores de uma Fábrica ou Empresa constitui, desse modo, a base fundamental da organização industrial.

A participação das organizações industriais dos trabalhadores na construção socialista não se limita ao dominío da economia, mas sim se estende – tal como mencionado acima – ao domínio militar e a outros domínios.

Através de seus representantes, as associações sindicais atuam na organização das atividades culturais e educacionais da República Soviética. 

A formação profissional e técnica repousa inteiramente em suas mãos.

O Comissariado do Povo para o Trabalho, órgão do Estado para a regulação das questões dos trabalhadores, é diretamente ligado, de sua cumeeira à sua base, à organização sindical.

 

DESEMPREGO

 

Nos últimos dois anos e meio de dominação soviética, as organizações, denominadas “Bolsas de Trabalho”, na Europa, e, entre nós, designadas “Sub-Departamentos para o Registro e Alocação da Força de Trabalho”, conheceram, em nosso país, um desenvolvimento particular.  

Sub-departamentos como esses que se ocupam com o registro e a alocação da força de trabalho existiam, em outubro de 1919, em 39 províncias, em número de 320, contando com 250 filiais.  

Esse número é particularmente expressivo se levarmos em conta que a Governo de Frente Popular possuía apenas 27 deles que arrastavam a miserável existência das bolsas de trabalho.   

As seções dos trabalhadores regulam (através dos sub-departamentos para a distribuição da força de trabalho) o pagamento dos auxílios aos desempregados.

À sua disposição, existe um fundo especial de seguro-desemprego.

Nos oito meses de 1919, foram concedidos auxílios a 1.080.997 desempregados por parte de 271 sub-departamentos do Comissariado do Povo para o Trabalho da Rússia Soviética.

A demanda por trabalho supera, normalmente, de modo significativo, a oferta, sendo que, dos registrados até 90 % deles vieram a obter trabalho.

Porém, os sub-departamentos intermediaram dezenas de milhares de trabalhadores da indústria para a realização de trabalhos agrícolas.

 

 LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

 

A legislação trabalhista na Rússia Czarista era extremamente pobre.

Durante a guerra, ela foi, então, inteiramente aniquilada. 

Depois da Revolução de Fevereiro, o Governo de Frente-Popular também não fez absolutamente nada para ampliar a legislação trabalhista russa.

A Legislação sobre a Jornada de Trabalho de 8 Horas, sobre o Seguro Enfermidade, sobre o Seguro Velhice e Invalidez, sobre a Inspeção Profissional etc. foi “debatida” nas secretarias do Ministério do Trabalho burguês.  

E, assim, tão somente a partir do momento em que os trabalhadores e as mulheres trabalhadoras assumiram o poder, iniciou-se o desenvolvimento da legislação trabalhista.

Todas as conquistas da Revolução Proletária foram confirmadas mediante decretos oficiais, tais como a Jornada de Trabalho de 8 Horas, os Plenos Poderes dos Trabalhadores no domínio da seguridade social e  tantos outros.

Um decreto especial sobre o “Controle dos Trabalhadores” concedeu ao proletariado urbano e rural a possibilidade de ingerência organizada e racional nos segredos da administração e de todos os tipos de unidades econômicas e empresariais.

Esse decreto foi a preparação, i.e. a introdução da dominação da classe trabalhora sobre todos os aparatos administrativos da produção industrial e agrícola.

No domínio da proteção ao trabalho, no domínio da seguridade social e no campo de semelhantes disciplinas conferimos à legislação um grande passo adiante.  

Nenhum Estado “Democrático” vela, em tão elevada medida, pelos interesses, pela vida e pela saúde dos trabalhadores como a Rússia Soviética.

Assistência médica, hospitalar e de parto é prestada aos trabalhadores de modo inteiramente gratuito.

Incapacidades laborais temporárias, plena incapacidade para o trabalho, em decorrência de debilidade corporal ou de avançada idade, concede Direito à aposentadoria, até o limite da perda do salário integral.

Uma proteção especial é assegurada pela legislação às parturientes.

 Um decretos sobre as mulheres trabalhadoras concede a elas o Direito de afastar-se de todas as atividades laborais 8 semanas antes e 8 semanas depois do período puerperal.

Durante todo esse tempo, a parturiente recebe seu salário integral e, além disso, são dispensados à mãe e ao recém-nascido certos artigos de consumo e meios de subsistência.

A mãe ocupada com a amamentação de uma criança possui sua jornada de trabalho reduzida.

A Inspeção do Trabalho supervisiona a execução de todos os decretos relativos à proteção do trabalho, ao amparo da saúde etc., sendo ela mesma eleita pelos conselhos das organizações sindicais.

 

 REGULAÇÃO DO SALÁRIO

 

A regulamentação do salário ocorre por meio da legislação.

Todas as indústrias, todos os ofícios e profissões, são dividos em grupos segundo o grau de dificuldade, complicação e qualificação do trabalho.

Todo o país encontra-se dividido em zonas, em conformidade com o nível de preços das localidades respectivas.

Moscou é tomada habitualmente em um padrão de preços de 100% e, enquanto o nível da Sibéria declina até 60%, eleva-se o de Petrogrado a 120% em relação à Moscou.    

O encarecimento permanentemente ascendente colocou, já desde há muito tempo, os trabalhadores russos diante do problema do pagamento dos trabalhadores com produtos naturais.

Porém, a escassez de mercadorias que presentemente prevalece permite apenas a solução parcial desse problema.

Em tais circunstâncias, os salários pagos em dinheiro servem apenas como substitutos para esses produtos naturais que o Estado reparte.

A terrível guerra que tivemos de travar até o presente momento não nos concedeu nem tempo nem forças para implantar a organização da produção, satisfazendo as necessidades da classe trabalhadora e camponesa.

Até o presente momento, tudo trabalhou para a guerra.

Agora, absorvemos as forças de trabalho liberadas para a produção de meios de subsistência, bem como para o transporte dos materiais combustíveis e matérias primas de todos os gêneros, indispensáveis à atividade industrial.

Os provimentos de cereais permitiram-nos ganhar as amplas massas de trabalhadores e camponeses para a concretização das tarefas de produção.

A multiplicação dos produtos facilita a execução do sistema de pagamento do trabalho em espécie.

Todas as organizações sindicais de nosso país subordinam o aprimoramento suplementar da situação material dos trabalhadores ao desenvolvimento das forças de produção.

E, nesse sentido, anima-nos todo e qualquer progresso industrial.

Para esse fim, introduzimos em nossas fábricas o sistema do assim denominado pagamento por peça, bem como o treinamento de elevação individual e coletiva da atividade de produção.

A apreciação do trabalho por peça é realizado por Comissões de Controle de Qualidade Especiais, eleitas pelos trabalhadores de uma certa fábrica. 

Os sistemos de prêmio são, igualmente, elaborados pelos trabalhadores e pelas presidências de fábrica, em conjunto como os Comitês de Fábrica, sendo, então, homologados pelo Comitê Central das Organizações Sindicais.

 

TAREFAS INTERNACIONAIS

 

Em meio ao seu trabalho quotidiano, nesses dias da grande luta revolucionária que conduzem toda a Rússia dos trabalhadores e camponeses a enfrentar a contra-revolução internacional, o proletariado russo observa, atenta e vigilantemente, a luta dos trabalhadores de todos os países.

Até o presente momento, não fomos capazes de entrar em contato com as organizações proletárias da Europa e dos EUA, o que se deve a todo o embargo e a toda a ocupação das áreas fronteiriças que perduraram até os derradeiros dias de fevereiro do ano em curso.

Segregados de toda e qualquer conexão com o exterior, procuramos ainda assim - às vezes, por meio do telégrafo direto – contatar organizações de trabalhadores e ficamos extraordinariamente felizes, ao sabermos que nossa voz foi ouvida.

As organizações sindicais não puderam implementar sua resolução relativa à convocação de um congresso internacional das organizações sindicais em nossa República.

As associações específicas e também o Conselho Central das Organizações Sindicais de Toda a Rússia propuseram-se a, por diversas vezes, enviar seus representantes ao exterior, a fim de colherem informações e estabelecerem ligações.

Porém, por força da situação militar, permaneceram desatendidas essas aspirações.

Nossas organizações sindicais atribuíram um significado muito grande à luta internacional da classe trabalhadora e às organizações, criadas para esse fim.

Todas as nossas ações, toda a nossa atividade e política encontram-se penetradas pela idéia internacionalista.

Os interesses do proletariado mundial, o desenvolvimento de sua vontande, de suas forças e de sua luta sempre foram a nossa estrela guia.

Sempre nos declaramos dispostos ao tratamento da questão relativa à unificação internacional do proletariado.

O pretérito não nos satisfaz.

Fornece-nos, porém, ricos ensinamentos e experiências.

Pouco tempo atrás, há cerca de 6 anos, o centro sindical internacional contava com cerca de 10 milhões de trabalhadores organizados.

Em muitos países, existiam associações sindicais poderosas que dirigiam, algumas vezes, a luta de expressivas massas trabalhadoras.

Porém, irrompeu, então, a terrível guerra que havíamos previsto já há muitos anos e contra a qual todos os congressos de trabalhadores haviam adotado resoluções.

Não obstante, a maioria das organizações dos trabalhadores posiciou-se do lado da burguesia e juntas traíram o conceito mais elementar de interesses comuns do proletariado mundial.

Durante toda a Guerra Imperialista, as organizações sindicais colaboraram com os capitalistas.

Os dirigentes e os burocratas prestaram fervoroso auxílio às estados-maiores militares, visando à aniquilação recíproca dos trabalhadores e à imbecilização de suas mentes com consignas enganosas:

Hoje, após o término da Guerra Imperialista que desmascarou toda a mentira democrática e toda a falta de caráter do comportamento do representantes oficiais das organizações dos trabalhadores levanta-se diante de nós a seguinte questão:        

Qual é o caminho que o movimento sindical internacional haverá de trilhar?  

Assumirá o caminho da luta de classes ou prosseguirá a propagandear o interesse comum dos exploradores e explorados, sob a máscara da colaboração do trabalho com a burguesia, da solidariedade de classes? 

Irá o movimento sindical esforçar-se por explorar a situação revolucionária efetiva e a disposição dos trabalhadores em todos os países, amadurecidas pela dura escola da guerra, da necessidade e da fome, para fortalecer e expandir sua luta contra o capitalismo?

A realidade está já nos fornecendo uma clara resposta.

Depois de muitos anos de vergonhosa postura, os velhos dirigentes e burocratas das organizações sindicais são ainda prisioneiros da burguesia.

Ao invés de promoverem uma atividade autônoma, apenas colocada a serviço de nossa classe, vemos farsa permanente, ininterrupta colaboração mantida entre o trabalho e os governos capitalistas.

Ao invés de organização internacional de luta, constrói-se a organização da fraude mundial, sob a bandeira de todas as comissõs imagináveis de Washington e de outros lugares, por meio de uma colocação do trabalho em torno da Liga das Nações etc., onde os representantes do oportunismo internacional são admitidos, no melhor dos casos, em uma terça parte:

Uma política como essa compromete.

Assim, vemos os velhos encabeçadores das organizações sindicais esforçam-se, de todos os modos, para evitar a luta, vemos como procuram tudo fazer para harmonizar, amigavel e pacificamente, todo conflito aguçado, sem grande contenda com os capitalistas e seus governos.

Isso ocorre precisamente no momento em que o precipício entre trabalho e capital atingiu uma profundidade até então jamais vista.

Os velhos dirigentes oportunistas tornaram-se, efetivamente, escravos espirituais de seus governos, de sua burguesia.

A classe trabalhadora e as organizações sindicais devem pôr um fim em uma tal política.

Devem-se libertar da tutela burguesa e dos dirigentes burocratas desmoralizados.

Um movimento nesse sentido existe em todos os países.

A insatisfação com os oportunistas e com a política traidora dos dirigentes das organizações sindicais gerou dois campos, no interior do movimento sindical unificado.

A ruptura já começou.

Esse processo sadio tem de incondicionalmente encerrar-se com a vitória da política da luta de classe e da organização autônoma da classe trabalhadora.

As organizações sindicais da República Soviética apoiam, com todas as suas forças e meios, a luta de libertação das associações sindicais européias e americanas em face da opressão espiritual do capital.

Nossas organizações de classe do proletariado aniquilaram o poder político da burguesia e o domínio econômico do capital, sem, porém, atuarem segundo os métodos de um Samuel Gompers, um Albert Thomas, um Carl Legien e outros sustentáculos da classe burguesa.

Milhões de trabalhadores organizados do nosso país ingressam na família internacional do proletariado combativo, a fim de assegurar, mediante ação comum, o êxito dessa luta, utilizando suas experiências recolhidas, visando à emancipação definitiva da classe trabalhadora em face dos grilhões do capital.

Nossas organizações sindicais jamais foram “neutras” em meio à luta de libertação da classe trabalhadora.

O movimento sindical em nossa República foi sempre uma parte da poderosa corrente proletária que ruma para o socialismo.

Concebemos nosso movimento sindical apenas como um lado, uma parte do movimento socialista, atuante em escala internacional, que apenas constitui um todo único quando unificado com o movimento político.

Nossas organizações insistem em que essa unidade de objetivos dos movimentos políticos e econômicos do proletariado expressa-se na criação de um centro internacional, concebido enquanto direção da luta de classes proletária comum.

No que diz respeito a essa questão, não somos nenhum inovador.

A I Internacional Proletária, fundada por Karl Marx, foi, a seu tempo, um semelhante centro unitário da luta multifacetada da classe trabalhadora.

Queremos seguir esse sábio exemplo, no domínio da organização.

Assim, atingiremos a desejada unidade de tática, bem como o máximo de êxito.

Na nova era que se descortina diante de todos nós, as organizações internacionais da classe trabalhadora devem desempenhar não o papel de um bureau estatal ou de expedição, ocupado com a difusão de jornais em três idiomas, mas sim hão de coordenar e dirigir todo o movimento e toda a luta da classe trabalhadora.  

Apenas nessas condições, tornar-se-ão organizações internacionais.

Apenas com esses métodos é possível a vitória da classe trabalhadora e sua definitiva emancipação em face do capitalismo. 

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

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[1] Vide SCHLIAPNIKOV, ALEXANDER GRAVILOVITCH. Aus der Gewerkschaftsbewegung in Russland bis zur Eroberung der Macht (Do Movimento Sindical na Rússia à Conquista do Poder), Chemnitz : Chemnitzer Druck- u. Verlagsanstalt GmbH, Juni 1920, pp. 5 e s.